Hoje é a vez da dona do café. Esses dias Jerusa foi a outro
café, com outros amigos. O povo olha para ela e pergunta: Hein??? Mas ela
continua a contar a história. Bem, então, em um momento em que a conversa não estava
interessante nesse café com os outros amigos, as orelhas dela se esticaram para
a conversa da mesa vizinha.
Na mesa vizinha, tinham dois casais. Pelo que ela entendeu,
um casal era uma brasileira e um alemão, o outro era um francês e uma alemã. O
francês e a brasileira riam muito alto, e o francês ia para trás e para frente,
e às vezes batia na mesa. Algumas coisas eram estranhas, eles falavam em alemão
(qual era o problema do francês?), não havia baguette na mesa e muito menos feijão. Havia sim, salsichas,
mostarda e o típico pão francês que só se diz “francês” no Brasil. Para Jerusa
parecia que a brasileira e o francês tinham se alemãnizado. Bom, pelo menos na
comida e na fala, não na gritaria.
Pera aí, a Jerusa entende alemão? Indagaram-se os amigos do
café da Je. Bom, isso aí eles deixaram escapar.
Quanto mais Jerusa esticava o pescoção para ouvir a conversa
alheia, mas os amigos do outro café achavam-na antipática. Porém, naquele
momento o babado parecia mais importante que a opinião alheia.
Em resumo o tópico da conversa era “qual o problema dos alemães?”.
Os alemães não têm muitos problemas, apesar de reclamarem que tem. “Das kotzt
mich an (isso me vomita)! Esse trem atrasou 30 segundos. Lastimável!”. Pelo
menos hoje em dia. Eles vivem numa economia relativamente boa (por enquanto),
saem cedo de casa para estudar nas Universidades ou em escolas técnicas,
trabalham muito, viajam muito, tem ótimas escolas e abundância de cerveja,
salsicha e batatas. Agora, socialmente eles ainda parecem um mistério para a
brasileira e o francês.
- Por que vocês não contam seus problemas para seus pais?
Por que não os abraçam? Por que não ficam tagarelando com os amigos? Por que
quando recebem visitas o planejamento do fim de semana é praticamente
empresarial, de tão metódico? Por que não falam de sexo, ou melhor, fazem
piadas de sexo? Por que o “tchau” de vocês dura um segundo e não uma hora?
Os dois alemães começaram a ficar vermelhos. E a parte “latina”
ainda berrava e produzia sons animalescos.
A conclusão foi a seguinte: para alguns
latinos, os alemães parecem apresentar menos algumas habilidades sociais como
de: fazer carinhos; iniciar conversas íntimas e embaraçosas; deixar as coisas
acontecerem, sem precisar planejar; relaxarem em um grupo de amigos ou de
família, isto é, não pensar no conteúdo da conversa, se esparramar no sofá do
amigo, ou do pai, etc.; fazer bobeiras, caretas, dançar, gritarias na casa dos
outros. Em geral parece para os latinos que os alemães estão mais dispostos a
prestar atenção no planejamento do que no que está acontecendo na situação em
que estão. Obviamente isso nem sempre acontece assim. Nem todos os alemães são assim.
Eles citaram alguns exemplos de alemães que não são assim, e a maioria deles ou
delas tem um parceiro (a) de outro país.
Esse é outro fato interessante. A alemã citou que leu em um
jornal que a cada dois pares na Alemanha, um é entre um alemão (ã hehehe) com
um estrangeiro (a). Esses dados Jerusa não achou na internet, mas ela achou que
a cada quatro famílias na Alemanha, uma tem alguém de origem imigrante (immigrant
background). Encontrou também que há muitas alemãs que casam com turcos, e alemães
que casam com polonesas, russas, tailandesas, italianas e por aí vai. Tem até um mapa para
quem quiser ver.
Os alemães, se sentindo colocados contra a parede
perguntaram para os dois: Mas a pergunta pode ser feita para vocês também, afinal,
por que tem tantos estrangeiros se casam com alemães?
A gritaria diminuiu um pouquinho e os latinos tiveram que
colocar a máquina para trabalhar. Talvez porque os alemães são sérios,
honestos, traem menos?
O francês ainda fica intrigado... Ou será que eles são assim
justamente por que não aprenderam tais habilidades sociais que expõe as pessoas
a situações de “risco amoroso”?
Algumas perguntas realmente não tem resposta...
Nisso, Jerusa olha para a mesa de amigos, pronta para contar
o babado e percebe que só as moscas estão lá para ouvi-la. Ela pensa que o Café
da Je a entenderia. E espera ansiosamente por sábado.
E para vocês: O que há de estranho no seu parceiro (a) amoroso
(a) que o torna enigmático?
Jerusa
Obs: Para meus amigos alemães que falam português – Sem ofensas!
Eu espero que vocês possam rir com isso como nós rimos ontem. Outro dia publico
algo sobre “as estranhezas dos latinos”.
Links:
E não é que veio um post de diferenças culturais? :) Sensacional!
ResponderExcluirAdorei os dados sobre os casais alemão (ã) + imigrante. Não conhecia!
Miga isso dá um estudo sociológico!!! além disso me fez lembrar dois filmes um sequência do outro que mostra justamente essas estranhezas entre culturas. O primeiro... Dois dias em Paris e outro Dois dias em Nova York. Fiquei imaginando você observando esse pessoal... da próxima vez leva um caderninho feito o filme... Café, em que o menino anota tudo que acontece nas mesas!
ResponderExcluirAcho que é a educação muito rígida voltada pro trabalho... bom se até Foucault fala disso!rs
Fiquei pensando eu aqui na Califórnia e nessas diferenças culturais. Eu no Brasil tenho mania de abraçar a pessoa quando conheço acho que por meia hora... aqui é apenas um aperto de mão nos primeiros encontros. Mas depois qdo eles ganham simpatia por você é possível ganhar um abraço meio medroso!rs
Ameiiiii miga!!1 parabéns por conseguir captar essas subjetividades que vc está vivenciando!