quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Política funciona? Para quem?






Gabriel ficou intrigado desde aquele papo do Renan que Luxemburgo é o “Oh là là” do momento... O problema é que esse papo de “governo” ainda está confuso para ele, já que ele atirou já para tantos lados em sua vida. Em sua adolescência Gabriel era já semi-anárquico, não o anárquico de entender porque era anárquico e sim, aquele de ligar o foda-se e se mostrar rebelde porque o mundo era cruel. Então colocava suas calças de skatista, que não lhe caiam nada bem e tentava fazer manobras radicais com sua bicicleta, isto é, subir na calçada sem sair da bicicleta. Não votava, e não queria saber de política.

Com 18 anos entrou para a faculdade de História e tirou a calça de skatista para se vestir de vermelho, segurar a foice e o machado. Por quê? Muitas vezes ele, assim como os outros, tentam criar uma história heroica de seus escolhas, mas a verdade é que ele foi com a maré. Assim como provavelmente muitos políticos fazem, afinal, trocar tanto de partido não significa ideologia, e sim “quem dá mais?”. Como diria o camarada Skinner, por trás de uma história em que a pessoa quer se mostrar digna e heroica, estão sempre escondidas a falsa noção de causalidade interior que retira da pessoa, tanto o crédito para suas ações, como a culpa por seus erros. Para as pessoas te darem crédito você deve esconder os passos que te levaram a ser o que é, e deixar parecer algo espontâneo “eu nasci assim, lindo, rico, inteligente e com o prêmio Nobel”.
Voltando ao Gabriel, era isso que parecia para ele. Aqueles colegas revolucionários, recolhendo assinaturas contra um possível NAFTA incluindo o Brasil, pareciam ter nascido bolcheviques. E Gabriel sentia que devia vestir o bonezinho e parecer entendido de Marx desde que nasceu, assim como seus colegas.
E dali, foi o comunismo, para os partidos mais softcore desses, porque Gabriel não conseguia ser assim tão radical. Para ser radical precisa de muito tempo e muita garganta, e ele não tinha esses dois. Então achou que o PT cairia bem e achou que Lula salvaria o Brasil.
Muito ele se esqueceu que antes dele havia uma história. E que o momento que ele vivia não era mais importante do que tudo que já aconteceu. Que na Europa o comunismo já era piada (menos na França) e que o comunismo é o horror para a maioria dos europeus que o viveram. A maioria das ideologias de governo foram instaladas com ditadura, porque a maioria delas não acredita ser possível um acordo entre as pessoas. Pior, elas tem a convicção que o único meio de salvar algo é por meio delas.
A experiência de Renan na Polônia e na parte da Alemanha que viveu o comunismo marcou Gabriel, pois ele foi visitá-lo algumas vezes. Ele voltou, então, à era anárquica, mas dessa vez foi atrás do que era isso...
A ideia de que um governo vai fazer um país eliminar pobreza, analfabetismo, doenças, etc. etc. sempre o foi duvidosa. Um governo realmente surgiu para isso? Talvez essa foi a melhor propaganda criada por uma instituição. Pois ela faz parte do povo acreditar que sim, há milênios. Apesar de pagarmos impostos para guerras, para festas que não podemos participar, propriedades suntuosas que nunca poderemos entrar, políticas falidas, cortes de cabelos de 3000 reais, e para reuniões onde o produto delas é a fala e nada de produtivo, ainda acreditamos que o mal está nas grandes corporações.
As grandes corporações só podem produzir o mal se estão acobertadas por governos corruptos. Algo que representa isso muito bem é Atlas Shrugged. Os governos fizeram muitos acreditarem que o que destrói o mundo são as grandes corporações. Sendo que é o próprio governo que está por trás da manutenção dos piores defeitos delas. Sem o apoio do governo, as más corporações faliriam, pois as pessoas buscam qualidade e deixam de procurar, comprar e usar aquilo que faz mal para elas. Às vezes é um processo lento. Mas elas os fazem. Pelo menos é nisso que um anarquista acredita. No poder de observação e mudança das pessoas, no voluntarismo e na liberdade delas. Foi a maior sacada da história isso de fazer crer que o que um governo faz é pelo bem comum. Deixa-se de olhar para aquele que retira do povo o que quer e o cria impostos para aquilo que deixa para trás.

O pior então é crer que o que salva um país é a mudança de pessoa de um posto político. Mesmo que ela tenha as melhores intenções, e que ela consiga mudar coisas, ainda vai ser pontual. Pois o sistema é falido. O ambiente político não gera produtividade, ele gera estagnação, falas e mais falas, discursos e mudanças a curto prazo, já que alguém fica no posto por 4 anos e em geral essas pessoas tem como objetivo fazer coisas que pareçam “soluções” para poder depois se elegerem de novo. O que fazem de bem é só um meio para outro fim. O de manter-se no posto. Um posto que recebe mais benefícios sem fazer muita coisa mais do que qualquer outra profissão.

Gabriel pensa que Luxemburgo não é um país rico porque seu governo é “bom”. Seu governo é mais livre, menos burocrático, as pessoas tem mais poder de decidirem sobre a economia do país. Mesmo tendo muitos bancos que provavelmente são paraísos fiscais de políticos corruptos, quem há de decidir sobre a moralidade desses bancos não é o governo luxemburguês. Os políticos corruptos não vão parar de corromperem porque não tem um banco para colocarem seus dinheiros. O sistema simplesmente não acaba fácil dessa maneira.
Essas histórias são vários capítulos da vida de Gabriel, o ceticismo em relação a governos nem mesmo começou. Mas os dados impressionam. Os países mais livres de intervenção estatal são os mais ricos (não ricos somente em dinheiro, e sim em saúde, educação, bem-estar, etc.). Aí está a lista...

Gabriel volta seus olhos para o café e está todo mundo triste, deprimido e desanimado. Ele sabe que seus amigos não tem o que fazer. São obrigados a pagar impostos mesmo sendo contra a maioria do que assistem diariamente os políticos fazendo. Mas o estado é o único que tem o poder de coerção. O café da Je não pode contribuir somente para aquilo que acreditam que vai funcionar. Eles nem são questionados a participarem das decisões, apesar de os políticos tentarem parecer que são. Que no que eles votam (se votam) são na lista de promessas. E essas promessas são as soluções, mesmo que elas não sejam compridas, são lindas.

Jerusa propõe um brigadeiro para animar o povo. Aqueles que nasceram com uma máquina de queimar lipídios potente aceitam, aqueles que têm que correr 3 horas para eliminar uma mordidinha recusam. Assim eles agradecem a liberdade de escolha daquele momento. Sendo liberdade não o “fazer o que dá na telha” e sim a existência de controles menos aversivos como a ameaça de punição, e sim, mais positivos que as pessoas livremente acordam em recebê-los em suas vidas. Não bater no filho porque ele não fez a tarefa de casa, mas sim ensiná-lo a gostar de estudar e ser curioso com a vida. No primeiro o resultado é óbvio, alguém que se comporta por regras – fazer para não apanhar. E não aprende porque faz e o que resulta do seu fazer. No segundo, ninguém sabe, mas provavelmente alguém que fará o que gosta e verá os estudos como um meio de sempre questionar a existência das coisas.

Há aqueles que acreditem que a situação só muda quebrando um governo, tirando o máximo de dinheiro deles e não pagando impostos.

E você, acredita que é o seu governo (as pessoas que estão nele, seja as com boas ou más intenções) que vai mudar aquilo que está prejudicando o seu país?

Gabriel

2 comentários:

  1. Cíntia,

    Parabéns pelo post! Esse é o melhor de todos pra mim! Viajei com a trajetória e gostei muito da reflexão acerca do sistema que é falido. Isso me lembrou minhas aulas sobre biopolítica na UFSC com um professor de filosofia que é uma referência. Uma vez numa aula discutimos o livro de Foucault, Segurança, Território e População em que o autor descreve sobre essa moral que possuímos de acreditar num "pastor" que cuidará de nós. Vale a pena ler este livro porque vai ao encontro das tuas ideias. Ao final da discussão o professor levantou essa questão para discutirmos... pq a todo momento precisamos de um pai da nação para nos proteger? por que nos não começamos alguma mudança? e por que não paramos de acreditar que a educação é a redentora de todos os problemas? enfim... são questões para longos debates!
    Bjoooo e parabéns! belíssima escrita!

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  2. Oi Gra!
    Obrigada pelas dicas! E pelas perguntas! Alias, boas perguntas!

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