quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Empanturrando-se de baguette française


É muito interessante ter amigos de outras nacionalidades... Primeiro é um desafio, você precisa identificar quem é você quando está falando uma língua que não é a sua e você também precisa fazer atividades diferentes das que está acostumado. Outras vezes você tem que experimentar cecê de francês...




Com os franceses, pelos menos aqueles que eu conheço, não preciso me comportar tão diferente de quando estou com brasileiros. De alguma forma, no meu caso, me sinto muito confortável perto deles. Alguns diriam que brasileiros se identificam mais com italianos. No meu caso são os franceses. Talvez porque aqueles que conheço, não nasceram em Paris... Metidos... No máximo em Versailhes, mas não deixaram se contagiar muito pelos parisienses.


- Não sou francês, sou parisiense


Também há outro fator muito importante. Os franceses que conheço falam alemão. Que??? Sim. Tem gente procurando um francês que fala inglês, e esses aí falam alemão? Pois é. Alguns até falam alemão sem sotaque, um exercício de alta complexidade para um francês.



Então um dos franceses te liga e convida para passar um fim de semana em sua casa de inverno, ou seja lá como eles chamam uma casa que tem em uma cidade que não a sua. Brasileiro chama de casa de praia. Na Europa tem mais frio que calor então prefiro chamar de “casa de inverno” ou “casa de chuva”, algo do gênero.



Então você chega lá e pensa: - Caraca! Onde esconderam o Jean-Luc Godard? Sim. A casa foi tirada de um filme clássico francês. É a única explicação. Todos os cômodos são literalmente pensados para você sentir o grau máximo de conforto possível. Os alemães tem uma palavra perfeita para isso “gemütlich”, que significa “conforto+agradável+calor+bonitinho+bem-estar” tudo junto. Assim era a casa.



Uma sala somente com sofás e poltronas voltadas para uma janela enorme com vista para um lago. Uma sala de jantar ao lado, dando para uma varanda perfeita para... fumar. Na França é quase que uma convenção social. É raro encontrar um francês que não fuma. O francês que não fuma que eles conhecem, mora no Brasil. Depois da sala, abrindo algumas portas você encontra, quartos, banheiros e finalmente a cozinha. Ah! A cozinha! Ela não precisa ser bonita, e sim, sagrada. Você precisa encontrar nela bons vinhos, muitas frutas e legumes da temporada, água fresca, queijos, carne de vaca, muitas e muitas baguettes, tortas com frutas da estação, croissants, pains au chocolat e presuntos. Em cima da casa, eram mais quartos e quartos e alguns banheiros.  Um dos banheiros tinha uma privada e não tinha pia. Novamente aparece aí o dilema do brasileiro “onde eles lavam as mãos?” ou “será que eles lavam as mãos?”. Para não arriscar, melhor das tapinhas nas costas.



Na casa de inverno de um francês tudo gira em volta da comida e da sala de estar. Claro, o mais importante é comer e desfrutar de uma boa conversa. No café da manhã precisa ter café, croissant, queijos, baguettes e presunto. Na janta, alguma carne, salada, vinho, uma sobremesa com fruta e baguette, o almoço, no meu caso, foi um mistério, porque a conversa do café da manhã durou até a noite quase, mas provavelmente a baguette estaria lá.



O francês tem calma. Entre cada garfada, há um comentário, ou sobre a vida, ou sobre a comida, ou sobre a baguette, ou uma piada. Podemos ficar horas durante a mesa. Há sempre alguma tranquilidade no ar. Se não estão no modo tranquilo, estão no modo “contadores de piadas”. Um comentário sobre o quanto a França é maravilhosa é sempre bem-vindo também.



A água também é muito importante. Não tem isso de misturar coca cola com baguette. A água está em todas as refeições. No máximo, suco fresco de laranja pela manhã. Mas para um francês definitivamente coca cola ou suco de caixinha não combina com as refeições. Inclusive os adolescentes parecem praticar esse ritual nas refeições.
Bem, eu nunca estive tão contente em beber somente água!!



Eu indicaria fazer amizade com um francês. Você pode aprender muito com ele sobre a vida! Como conhecer um francês no Brasil? Bem, para quem conhece bem os alemães, é possível identificá-los pela batata da perna. Sim, os alemães têm batatas grandes, torneadas, definidas e bonitas. Não sei se isso é consenso, mas eu já vi uma batata de perna numa aula de dança no Brasil e perguntei para a menina: “Sprechen Sie Deutsch?” (“você fala alemão”), ela respondeu que sim! Também dá para identificá-los se você vê uma combinação de meia e chinelo na rua. Os franceses dá para reconhecer ora pelo cabelo, ora pelo sapato. Nem todo francês tem cabelo sedoso, brilhoso e esvoaçante, por isso às vezes você tem que olhar para o sapato. Se o francês não estiver jogando seu cabelo de lado como numa propaganda da L’oréal, então olhe para os seus sapatos. Se eles parecerem um pouco pontudo e de cores esquisitas, como se tirados dos anos do Rei Sol, provavelmente é um français ou uma française






Uma dica de livro muito interessante sobre o que uma americana aprendeu com os franceses é: Crianças francesas não fazem manha.



E os seus amigos? O que você aprendeu com eles?

Renan

6 comentários:

  1. Muito interessante e bom de ler o seu texto, Cíntia.Ele prende muito a atençâo e é cheio de novidades! Parabéns!

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  2. Cíntia. A sua narração me lembra um bom documentário na mídia.

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  3. Que bom gente! Se vocês tiverem sugestões de temas só mandar! :)

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  4. Aaaaah o pain au chocolat...
    Concordo com os comentários, texto que prende a atenção e atiça a curiosidade! Não dá para parar de ler! Adorei!

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  5. Amiga... fiz uma viagem nesta super mega power casa! interessante essa coisa do banheiro hein! Qdo fui para Paris tive a impressão que eles não curtem mtos banheiros, aliás nas ruas eu encontrava poucos banheiros públicos e qdo precisa fingia ser uma cliente de algum restaurante... mas eles não gostavam mto! Casa de chuva é ótima... acho q se aplica a floripa amiga! O povo de lá reclama q só chove, depois dizem que London que é assim! Mais uma vez lembrei do filme... 2 dias em Paris!!! é mto bom! Parabéns pelo texto... dei mtas risadas e fiquei doida pra comer croissant... humm
    bjooooooo

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  6. Obrigada amiga! Acho que também essas casas podem ser bem mais antigas, então encanação era tudo diferente. Tanto que antigamente chuveiro era no primeiro andar e até por vezes, fora de casa! hehehe

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