sábado, 21 de junho de 2014

Parindo em Luxemburgo





Ter um filho é provavelmente uma das decisões que vai mudar mais drasticamente a vida de uma pessoa. Não poucas vezes em clínica, recebi casais que não conseguiram lidar com a nova situação. Porém, muitos outros manejaram tão bem (bem não quer dizer sem brigas, desafios, problemas, ok?) e conseguiram criar essa atmosfera totalmente nova que culturalmente foi chamado de “família”. Bem, uma família em si, não precisa ser constituída de filhos. Entretanto, depois dos filhos, fica difícil não nomear dessa forma.


Além da decisão de ter um filho, vem outra, que parece um pouco estranha, mas é muito importante – como trazer o filho para o mundo. Por estranho que pareça, existem hoje várias formas de trazer um ser ao mundo: parto normal, natural na maternidade, no hospital, em casa, cesárea marcada, cesárea após sentir as primeiras contrações, parto com epidural, sem epidural, com episiotomia, com parteira, com médico, com o companheiro, com a família toda assistindo, etc.


Aonde você mora vai ser crucial para essa decisão. Luxemburgo é um país que incentiva parto normal (natural, não sei exatamente qual é a expressão usada). Dificilmente um médico vai te perguntar se você quer fazer cesárea. A cesárea vai acontecer somente em caso de necessidade. 


Em relação à taxa de cesáreas no Brasil e o debate sobre esse tema, recomendo esse artigo e essa estatística:


55% das mães não planejaram engravidar, aponta pesquisa:



Percentage of Births by Caesarean Section (porcentagem de nascimentos por cesárea): http://chartsbin.com/view/2501


Todas as maternidades dão cursos preparatórios para o parto. Os cursos são ministrados por doulas e parteiras. Elas são especializadas em partos e cuidados com os bebês. Fazem um curso técnico que geralmente dura 3 anos.

A pessoa mais importante, da equipe técnica na hora do parto, é a parteira. O médico só vem ao final do parto. É ela que alivia as dores das contrações com palavras doces, que vai ver como você se sente melhor – na banheira, com a bola, perambulando pela maternidade, deitada, sendo acariciada. Ela tem toda a paciência do mundo. 

 
Site da maternidade que pari :)

A doula, que pode ou não ser parteira, ajuda antes e depois do parto. Ela vem te visitar em casa, te encoraja para o parto normal, te dá dicas, dá dicas ao maridão. Depois de sair da maternidade, ela vem novamente te visitar, ensinar técnicas de amamentação, monitorar o peso do bebê, tirar dúvidas, encorajar na amamentação. 

A minha doula é uma escocesa muito “gente boa”. Faço parte de um grupo que chama “Moms to be”, onde a conheci. O grupo é para pessoas que falam inglês, sejam nativos ou não. É composto principalmente de inglesas e norte-americanas. O grupo existe para as mães se encontrarem, levar seus bebês, tomar um café e conversar. Não tem uma estrutura ou palestras. Tem dúvidas? Pergunte as mães mais experientes ou as doulas. Apesar do nome “Moms to be”, o grupo é para gestantes e mães com bebês de colo. É incrível o que se pode aprender num “conversê”. As inglesas mesmo, são sensacionais. Uma curiosidade por exemplo, a maioria delas não quer saber o sexo do bebê. Somente na hora do parto. Eu não aguentaria!


Em geral, as mães aqui escolhem fazer seus partos na maternidade. Parto em casa não é tão comum como na Holanda. Na maternidade você escolhe se quer parir na banheira, de quatro, deitada, sentada, etc. Quem comanda é a mulher. O médico vai fazer alguma intervenção caso a vida da mãe ou do bebê esteja em jogo (ou caso seu bebê resolveu ter 4,4kg hehehe), ou caso a mãe não aguente mais. Tudo depende do momento.


Na maternidade, se for seu primeiro filho, você vai ficar em média de 3 a 6 dias “internada”. Por quê? Seu bebê vai precisar ganhar peso antes de você sair! Estranho? Sim! Muito! É uma pressão enorme nas mães. As enfermeiras chegam a pesar alguns bebês antes e depois de cada mamada! Se depois do terceiro dia o bebê continua a perder peso (os bebês depois que nascem podem perder até 10% de seu peso, já que o leite materno demora até 5 dias para chegar). Algumas incentivam as mães “calma, seu leite vai sair, de todas saem”, outras são mais linha casca grossa “ih, que peito mole, não vai sair muito leite daí não”. 


No meu caso, estava difícil sair leite, no terceiro dia pedi para o meu médico me liberar da maternidade, porque eu tinha certeza que indo para casa sairia o leite. Lá tinha muita pressão, não dava para dormir direito por causa do entra e sai das enfermeiras. Meu médico que é muito querido, aceitou, apesar das regras. Fui liberada no quarto dia. Duas horas depois que estava em casa o leite começou a jorrar! Realmente pressão não leva a bom desempenho... Ou bom leite!


Na maternidade também aprendemos a trocar fralda, dar banho, limpar umbigo, nariz, ouvidos. Podemos fazer cursos relacionado a choro, cólica, conhecer as outras mamães e seus recém-nascidos, o que é muito legal e instrutivo!

Algumas enfermeiras e minha parteira foram fundamentais para o meu bem-estar. Assim como as visitas da família, dos amigos e do paizão do meu pequeno. 




Tudo isso envolve o “parir” de uma mulher no Grão-Ducado de Luxemburgo. Porém, nenhum parir é igual... E o parto para uma mulher é quase que uma coisa inexplicável. Assim como para o homem, que tem que aguentar muito também. Sobre o parto em si, já mandei minha descrição para os amigos, os detalhes vou poupar outros leitores. Já que sim, é dolorido pra caralh... Pelo menos foi assim o meu...


Agora vem o próximo desafio – a construção da maternidade. Quem sou eu, nós, depois de parirmos?


Abraços,

Cíntia

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