sábado, 9 de novembro de 2013

Infidelidade: invasor estrangeiro ou um fato da vida?



- Eu estava hoje na fila do RU.
- Por quê???
- Deu saudades da época universitária. Bom, daí eu ouvi um papo bem interessante, que me remeteu ao livro que terminei de ler essa semana.
O papo foi mais ou menos assim:

- Ai menina, você acha que existe algum homem fiel nesse mundo? – uma moçoila possivelmente traída fala para a amiga.
- Guria, você acha que existe alguma mulher fiel? – responde a amiga.
- Menina, você tem um bafão pra contar?
- Tenho!!!
- Aiiiii me conta!!!
            Aparentemente um problema que era para a menina – o de ser traída - não se caracteriza mais como um problema se a sua colega o pratica.
            Eu li um livro muito divertido e informativo chamado “Crianças francesas não fazem manha” (título original: Bringing up Bébé) e depois pesquisei na internet mais sobre a autora, que se chama Pamela Druckerman. Ela era correspondente do Wall Street Journal no Brasil e Argentina e teve a ideia de escrever o livro “Lust in Translation” (título no Brasil: Na ponta da língua: as linguagens do adultério do Japão aos EUA), seu primeiro livro, quando percebeu que o fato de ela ter uma aliança no dedo não impedia os casados latinos em propor encontros sexuais a ela. Observação: Porque os títulos brasileiros são tão longos e diferentes dos originais? 
           O estilo descontraído de escrever de Pamela e o tema de seu primeiro livro instigaram minha curiosidade, e fui direto para o Amazon comprar Lust in Translation
           Pamela viajou para 24 cidades em 10 países e entrevistou dezenas de pessoas sobre a questão da traição. Não é de forma alguma um livro científico, é jornalístico e pode-se dizer também com respingos de humor. A autora mesmo explica que a quantidade de declarações nem mesmo constitui uma base estatística confiável. 
            Bom, mas o que é interessante nesse livro? O tabu em si. Daquilo que não se fala, e se espera como regra geral que as pessoas sejam fiéis. E é isso mesmo que acontece? Para Pamela, na maioria dos países em que ela fez entrevistas e examinou as estatísticas, as pessoas são sim fiéis. Não somente por escolha pessoal, mas estilo de vida. Depois de trabalhar 40 horas, ficar 2 horas no trânsito, fazer atividades extra trabalho, as pessoas querem ir para casa ficar com a família, amigos, namorada (o). Mas Pamela foi atrás daqueles que não são fiéis, que no caso de alguns países não era uma quantidade tão desprezível! 
            Pamela também afirmou que pode ser possível observar alguns comportamentos que são mais propícios a serem de futuros “traidores” do que de pessoas fiéis. Outras pesquisas brasileiras já publicaram também essas probabilidades como a do Professor da USP Ailton Amélio (vulgo titio). Ver esse link (é o último artigo da página - Como empurrar o seu parceiro para a traição) 
            “Eu preciso ser feliz” – disse um francês que ela entrevistou ao explicar porque trai. O que exatamente ser feliz significa para as pessoas? Sentir um grau diário de tesão por alguém ou “alguéns” seria uma das características da felicidade? 
             Ela se pergunta então se adultério é um “invasor estrangeiro ou um fato da vida”? Para a jornalista Pamela Druckerman até as pessoas felizes traem. Mas ela não dá muitas respostas. Como eu não vou dar aqui...
             Algumas curiosidades culturais em relação à infidelidade que ela apresenta no livro: 
            - Flertar não é um sinal de desrespeito para os franceses, nem entre amigos. E casamento para alguns franceses está fora de moda desde que o PACS (pacte civil de solidarité) foi criado, que oferece alguns benefícios legais e financeiros como do casamento, mas não precisa pagar caro por advogados se o casal decide se separar. 
             - A revista russa Cosmopolitan já publicou um artigo incentivando as mulheres a terem casos e dando dicas para as mulheres que já estão pulando a cerca, não serem descobertas com seus casos. O artigo diz que ter um amante faz a mulher ficar mais magra, feliz e confiante.
             - Russos gostam de drama, de acordo com uma americana que foi casada com um deles. Para ela parece que trair a mulher faz o homem se sentir culpado e acaba por tratando-a melhor.  Essa americana disse que não aguentou manter o drama por muito tempo, já que seu marido parecia querer colocá-la na posição de endireitá-lo. 
             - Para os psicólogos na Rússia é quase impossível uma relação sem infidelidade. 
              - No Japão a maioria das mulheres é que pedem o divórcio. O casal não conversa muito um com o outro. Alguns homens que ela entrevistou disseram que as mulheres deles pareciam nem gostar de conversar, de fazer gracinhas. Eles pagam então meninas para conversar com eles “Elas são engraçadas, fazem piadas” conta um deles. Além disso, as “hostess bar”, essas meninas pagas para conversarem e que não são definitivamente psicólogas, falam sobre sexo e alguns japoneses podem até conseguir tocar os seios delas. Mas para elas, sexo “is bad for business”, porque elas acreditam que eles não voltariam para conversar depois do sexo.  
             - Já num sex club japonês você pode pagar por sexo, e os preços são diferenciados dependendo do que você quer fazer, até mesmo para o tipo e a quantidade de ejaculação. 
             - Internacionalmente, é difícil encontrar qualquer correlação entre religiosidade e traição. Os franceses e os britânicos são muito menos religiosos do que os americanos, mas todos os três têm níveis semelhantes de infidelidade. Africanos subsaarianos estão entre as pessoas mais religiosas do mundo, assim como vários países da África, mais de 80% das pessoas dizem que a religião é "muito importante" para eles. E ainda a África é provavelmente o continente com o maior percentual de homens infiéis. Os latino-americanos também tendem a ser religiosos, e eles traem bastante também, na opinião de Pamela (será que ela está vendo muita novela, o que definitivamente não é referência para a maioria da população brasileira).
            - O Islamismo e Judaísmo, cujas tradições legais fazem o código tributário americano parecer simples, também tem a vantagem de que suas lacunas sagradas parecem justificar o sexo extraconjugal. Na Indonésia, o simples fato de que a poligamia é possível dá uma certa licença para homens manter concubinas. Ironicamente, ter um monte de leis - em vez de apenas um código moral amplo - pode tornar mais fácil de cometer adultério e ainda assim dar um sentimento para a pessoa de que ela não está pecando. 
            - Os países que você imagina serem focos de infidelidade (França, Itália e os EUA), na verdade, estão entre os mais baixos índices para o adultério. De fato, entre casados ​​americanos de 18 anos ou mais, menos de 6% tiveram mais de um parceiro sexual no último ano. Outra curiosidade, é que os casamentos e relacionamentos franceses duram muito mais tempo do que os americanos (é curioso esse fato, já que para muitos franceses o ato civil de casar não é tão importante como é para os americanos).
            - No Japão, os homens não consideram traição se pagam por sexo e eufemismos como "fashion health clubs” (clubes saúde da moda?) e “soap land clubs” (clubes Terra do sabão) definem os tipos de serviços oferecidos pelos clubes de sexo japoneses. Na China, uma economia em expansão, permitiu que muitos empresários de Hong Kong mantivessem uma amante em uma das "Aldeias Segunda Esposa" na China continental.
              Bom, tudo leva a crer que infidelidade é um fato da vida e que as diferentes culturas lidam de diferentes formas com esse tema cabeludo. Os americanos fazem muita terapia, ou vão para encontros religiosos que ensinam a não trair (hein?), os franceses lidam de uma forma menos dramática, os russos aproveitam para fazer teatro, as japonesas se divorciam silenciosamente, as chinesas esperam o caso acabar. Claro, tudo isso são casos particulares e não dá generalizar.
             Agora, é fato que infidelidade dói em qualquer lugar do mundo e é um dos segundos maiores motivos de separação. Ela vem junta de vários comportamentos provavelmente indesejados pelo parceiro traído, que pode muitas vezes tornar a vida das pessoas um inferno (se não é um namoro liberal). Então, vale a pena pensar até quanto você aguenta estar sempre intranquilo (a) na sua relação
             E bem, essa é a opinião de uma americana. E para vocês? Esses dados parecem reais? A opinião dela tem base? Ou parte é bullshit?

Link para entrevista com a autora (em português): 
http://vidaeestilo.terra.com.br/homem/vida-a-dois/jornalista-americana-revela-como-a-infidelidade-conjugal-e-vista-em-oito-diferentes-paises,10088f96e4237310VgnCLD100000bbcceb0aRCRD.html

2 comentários:

  1. O tema infidelidade sempre me traz muitas questões. Por que o tema infidelidade traz quase sempre o homem como protagonista? O homem só é infiel porque encontra uma mulher que também aceita ser infiel. Ou é muito simples pensar isto?

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  2. É verdade! No caso desse livro, a autora tinha mesmo os homens como protagonistas. Mas entrevistou algumas mulheres na Rússia, na Indonésia (sim!) e África do Sul que traem seus maridos ou namorados.
    Acho que nem toda mulher que é amante, sabe de início que o homem é casado, principalmente se for um caso rápido. Mas claro, no caso das que sabem, elas aceitaram essa condição. Pq? Cada caso é um caso, eu acho. Acho que qualquer coisa sobre relações é complicado generalizar.

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