domingo, 22 de setembro de 2013

Aqui em Luxemburgo, portuguesas vestem cueca, não calcinha





Eu dedico esse post aos meus amigos portugueses, portugas, tugas aqui “no” Luxemburgo!

Você chega então num país que fala alemão, francês e luxemburguês e você pensa “Oh mon Dieu, como me virarei nesse país!?”, claro porque só da possibilidade de pensar em francês já é chique. Como você fala alemão, o cenário fica menos tenebroso. Porém, para quase todo o país, o francês é muito mais importante. 

- Parlez-vous allemand? (“Você fala alemão?”)
- Non...
Cacildes!
- Parlez-vous anglais? (“Você fala inglês?”)
- Non...
Merde! Está bem, a tentativa mais improvável...
- Parlez-vous portugais? ("Você fala português?")
- Pois (poixxx)! Obviamente (Óbviament (sem “i” depois do b, amigos brasileiros)!

Aliás, para meus amigos portugueses, pneu não é "pineu", e nem laptop, "lapitopi"... 

E assim vai de loja em loja, cabeleireiro em cabeleireiro, café em café, esquina em esquina e no trabalho!

Reunião de trabalho. Você começa a expor suas dúvidas e de repente o pessoal da mesa começa a sorrir. Primeiro você pensa “que simpáticos!” e mais uns minutinhos e você ouve “hihihihi”. Ok... Não é fácil ouvir um sotaque brasileiro quando você é português sem no mínimo achar “engraçadinho”.

A mesma coisa é na aula de francês: “ei Cíntia, como se diz em “brasileiro” “hospedeira de bordo”?”. “Aeromoça”, eu digo. “Olha que giro como ela fala”.

É nesse mesmo meio, onde sou uma portuguesa de nariz entupido, que me sinto muito confortável.  Falar o português, não importa se é o portüguêxx ou o poRtuuguêiiss é muito gostoso! Numa terra que você é vista como “estrangeira", estar perto dos meus colegas tugas me faz sentir em casa.

Não há nada como contar uma história para um português e ouvir “que giro” ou “que fixe”, ou escutar várias vezes ao dia “pronto”... “Eu fui lá falar com ela, e pronto, foi isso”.

É estranho perceber algumas semelhanças culturais como uma cultura ainda machista, muitos homens acreditam mesmo ter a “posse” de suas mulheres. O mais estranho é ver que algumas mulheres aceitam esse papel. E é interessante perceber as diferenças, como por exemplo, políticas públicas portuguesas que são feitas sem intervenção religiosa e que dão maior liberdade e acesso para o indivíduo escolher seu próprio destino...

Apesar de grande parte dos portugueses marcar um X no “católico”, a maioria realmente não é. Se for pensar nas regras que alguém deveria seguir como católico, claro. Apenas 20% dos portugueses vão a igreja para ouvir a missa, e desses 20% apenas 1/3 vai regularmente e cumpre todos os desígnios da igreja (dados de 2001).

Aumentou o número de divórcios em Portugal - 1 divórcio por cada 4 casamentos - (ô lokooo! Todos estamos em risco? Oh yeah, baby) e de segundos casamentos. Cresce significativamente o número de filhos fora do casamento: pertencem a este grupo um em cada quatro nascimentos (dados de 2002).

O governo português descriminalizou todas as drogas, fez pesquisas e tratamentos para os usuários. O resultado depois de dez anos é positivo, houve uma queda no consumo de substâncias ilícitas entre os jovens de 15 até 19 anos dentre outras coisitas (ver fonte).

 Portugal também legalizou o aborto (por referendo realizado em 2007). Fazer um aborto em Portugal não é crime e a mulher tem direito a fazer o procedimento em uma clínica, qualquer pessoa pode abrir uma clínica de aborto. Enquanto no Brasil isso ainda é decisão do Estado (e Igreja) e mulher estuprada tem direito a Bolsa Estupro.

Mas aqui em Luxemburgo as coisas não vão tão bem para meus amigos portugueses. Provavelmente, para os brasileiros também não. Um historiador português, António de Vasconcelos Nogueira escreveu um livro, chamado "Os Portugueses no Luxemburgo" e verificou que os luxemburgueses, em geral, veem os portugueses como uma mão de obra descartável.      

Cerca de 32,5% da população luxemburguesa é de origem estrangeira: 16% são portugueses; 6,6% franceses; 4,3% italianos; 3,4% belgas e 2,2% alemães (Fonte: Instituto luxemburguês de estatísticas, Statec). Sem contar que muitos alemães, belgas e franceses não moram aqui, mas trabalham aqui. Então durante a semana o país tem muito mais gente que no fim de semana. Muitos vão e voltam todo dia para o seu país. 


(fonte:http://www.casa-asbl.lu/quem-somos/estatisticas.html) 

Larochette, uma cidade do Grão-Ducado tem em seus registros a maior percentagem de portugueses em Luxemburgo (45,2%). Os portugueses têm menos qualificações que a generalidade dos luxemburgueses e dos outros estrangeiros, indica o Statec.  Além disso, conheci alguns portugueses com ensino superior que estão trabalhando como pedreiros, faxineiras e babás (brasileiros também). Em geral, os portugueses que vem para Luxemburgo não foram além dos estudos primários (45%), contra apenas 16,8% dos luxemburgueses e 24,4% dos outros estrangeiros (Fonte: Instituto luxemburguês de estatísticas, Statec).

No Grão-Ducado há um índice relativamente alto de desemprego (se não for comparar com a Espanha, claro). Os portugueses, infelizmente participam desses índices numa escala alta. 


(fonte:http://www.casa-asbl.lu/quem-somos/estatisticas.html) 

Não muito diferente de vários países que culpam os imigrantes pela crise (primeiro os chamam para salvar de uma crise e depois de anos, quando outra crise aparece a culpa é desses imigrantes), Luxemburgo também tem problemas com xenofobia relacionada principalmente aos portugueses e franceses:

"Por causa dos estrangeiros estamos cada vez mais pobres e somos nós que pagamos por eles. Os impostos vão subir e os estrangeiros apenas poluem o país", lê-se no panfleto do economista e fundador do movimento nacionalista "National Bewegong", Pierre Peters, citado pela imprensa no Luxemburgo.”

Bom, tudo isso me faz pensar no quanto o rumo da história pode ser totalmente diferente daquilo que se imaginava. Aqui estou eu, rodeada de amigos e colegas portugueses, enquanto nossos antepassados estavam brigando para se livrarem um do outro. Hoje, nós estamos brigando durante o dia para arrumar trabalho (para aqueles que não tem), e a noite tomando uma cerveja no pequeno Grão-Ducado. O único que ainda resta no mundo. O que será de nós em alguns anos, caros amigos?

Por que do título? Calcinha para português é cueca! Vê se pode!

E você? Que rumo você acha que seu país vai ter?

Cíntia

3 comentários:

  1. A carga de imposto pago pelo brasileiro é monstruosa comparada com a péssima prestação dos serviços públicos em todas as áreas, ou seja, a começar pelo executivo e passando pelo judiciário e legislativo. Alguém conhece algum serviço público que mereça elogio?

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  2. No Brasil? Eu conheço! É o órgão mais eficiente, organizado e rápido do Brasil: Receita Federal :)

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  3. Que genial essa frase do Gentili! E adorei conhecer mais sobre os tugas no Luxemburgo! Ainda vou conhecer Portugal :)

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