terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Existe um manual de instruções para uma vida significativa?



"Jein", como dizem os alemães, que seria a junção de "Ja (sim) e Nein (não)... Manuais até existem, mas podemos colocar em prática dependendo de nosso contexto, momento de vida, repertório comportamental (e mais outras variáveis que eu e a autora esquecemos). 
Agora... Uma vida significativa nem sempre é agradável.

“Todas as pessoas querem ser felizes ", já reconhecia Aristóteles. Na Constituição dos EUA, a busca pela felicidade foi tomada mesmo como um dos direitos fundamentais, por mais estranho que pareça, já que seu governo faz tantas guerras e seu povo se alimenta muito mal, consome excessivamente e produz a maior quantidade de lixo do mundo. Por último, a ideia de que "felicidade" pode ser um direito... É possível ser um desejo, mas um direito? Como regular isso?

Mas uma vida feliz é automaticamente uma vida significativa?

Tatjana Schell, professora na Áustria, que pesquisa por dez anos essa pergunta, diz que não.

Para ela, felicidade é viver um grande número de experiências agradáveis ​​e positivas e evitar, emoções estressantes e negativas. Mas para a professora, ter uma vida significativa não se trata de ter momentos agradáveis, mas sim, fazer o que é “certo”. Isso me pareceu um pouco coisa de filme americano “do the right thing”...

Pessoas que cuidam de alguém da família com necessidades especiais, por muitas vezes idosos, por exemplo, podem apresentar sentimentos de estresse e cansaço e não achar nada agradável a situação. Mas há nessa atividade um senso de “significativo”, não comparável a outras atividades.
Isso é o que diz a autora, mas também o que penso, é que tal situação não é planejada ou escolhida e a maioria das pessoas não deseja estar nessa situação. Nem a pessoa que precisa ser cuidada (principalmente um idoso que viveu anos independente dos outros) e nem a pessoa que cuida.

O que torna então uma ação significativa?

A pesquisadora austríaca encontrou em seus estudos empíricos, quatro condições:

1 – O contexto
Suas ações devem levar aos seus objetivos, mas seus objetivos podem ou não funcionar, dependendo do seu contexto. Tais objetivos, você deve acreditar que sejam os melhores e mais apropriados para você. Objetivos que tem relação com seus valores e necessidades. Para ser fiel a si próprio, algumas vezes, você precisará dizer não, tomar uma posição, e por vezes ser um pouco diferente (sair da sua área de conforto).

2 – Sentido/ Significado/ Importância (difícil traduzir a palavra Bedeutung)

Dificilmente alguém que trabalha sentado o dia inteiro, na frente do computador, consegue dar, a longo prazo, um sentido naquilo que é exibido no monitor ao fim de todos os dias.  Muitas dessas pessoas podem até sonhar em estar reparando bicicletas, trabalharem como carpinteiros ou com cavalos, qualquer coisa, que a consequência daquilo que você faz é muito mais óbvia e ali, na sua cara.

Eu lembro na época da faculdade, muitas pessoas reclamavam que os professores eram sonhadores e se sentiam os salvadores da Pátria. Dependendo realmente de quanto tempo você está na sala de aula, de que tipo de pesquisa você faz, se realmente o produto do seu trabalho está num monitor e nas suas falas, você começa a ter um discurso político delirante. Porque aquilo que você fala, não precisa ser avaliado para ver se resulta naquilo que você está jurando que resulta.

Daí você vê muito profissional mal-humorado, dizendo que as coisas não funcionam, que todo mundo é ruim, péssimo profissional, mas qual é o seu objetivo, quais são realmente os resultados que você obtém? 

3 – Orientação.

Quem está na estação de ônibus, sabe provavelmente para onde quer ir. Na vida real, há muitas possibilidades, é muito útil então saber para onde você quer ir, senão fica perdido, dentre todas as possibilidades que têm... Muito importante também saber aonde não quer ir e o que não quer ser!  

4 – Sentimento de pertença.

Os homens são seres sociais, muito dificilmente conseguem viver totalmente sozinhos e isolados. Significado emerge para a maioria das pessoas, quando elas se veem como parte de um todo e de uma experiência maior. Esta pode ser a família, os amigos, um clube desportivo, uma comunidade espiritual, whatever.

Todo homem precisa de um sentido para a vida?

Para um número surpreendente de pessoas as perguntas ou temas do trabalho da austríaca são irrelevantes. Eles não veem nenhum significado especial em suas vidas, e também não sofrem desta “futilidade”.

O Estado civil desempenha um papel importante do “sentido da vida”?

Para a autora, as pessoas casadas (seja civilmente ou moram junto por escolha) ou até mesmo as pessoas que já foram casadas, desfrutam de vidas mais significativas e se sentem mais satisfeitas do que as pessoas indiferentes a relações “sólidas”.  A vontade de estabelecer um vínculo forte com alguém parece promover sentido - ou senso de “missão cumprida”.

Os solteiros, no entanto, vivem mais frequentemente uma crise de “sentido”.  A vida de solteiro parece ser um fator de risco para crises existenciais.

Mas claro, isso são generalizações. Será que um casal que vive brigando, são mais apegados ao seus corpos que ao seu crescimento pessoal, que são violentos, faltam com respeito um com o outro, mesmo assim tem essa sensação de “sentido para a vida”?

E solteiros, que preencheram suas vidas com atividades úteis, com consequências “reais” e gratificadoras para suas vidas, com uma grande rede de apoio social – família e amigos, não se sentem mais realizados, que um dos parceiros, do casal acima?

O fato é que nossa sociedade praticamente “exige” que ao passar de uma certa idade as pessoas se expliquem “porque estão solteiras”. Talvez se essa exigência social fosse derrubada, os solteiros também não teria crises existenciais. Porque a vida tem sim sentido, sozinha. Não ter parceiro (a) não significa não ter família e amigos e um trabalho gratificante.

Bom, o sentido dessa reflexão não é dizer o que deve ou não deve ser feito. A pesquisa da autora Tatjana Schell me chamou atenção para algumas coisas, mas nem tudo eu concordo com ela.

Aqui em Luxemburgo está tendo um debate muito grande sobre violência doméstica, comentei isso outras vezes. Essa violência pode ser física e verbal, isto é, punitiva, humilhante, proibitiva, tornando a vida de um dos parceiros na relação restrita a sua própria casa. Quando assisti há um desses debates me perguntei: O que será uma vida significativa para tais pessoas?

Ou mesmo quando vejo as notícias de corrupção, somente um político ter roubado 150 milhões do povo brasileiro! Imaginem! Quantos políticos temos! Socorro! Bom, daí fico pensando... Qual é o sentido da vida para essas pessoas?

E para vocês? O que dá sentido em suas vidas?

Link para o artigo do qual retirei as informações do texto (desculpa, está em alemão): http://www.persoenlichkeits-blog.de/article/10958/gebrauchsanweisung-fuer-ein-sinnvolles-leben#more-10958


Je

Um comentário:

  1. Muito bom! Na minha vida atualmente vejo sentido e significado no trabalho, nos amigos, nas últimas decisões que tomei e nas minhas metas para 2014 :) Estou tentando seguir a risca! hehe

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