Trabalhar é uma escolha livre da mulher-mãe? Ou estará ela sujeita a julgamentos?
Em muitos países, como o Brasil, EUA, França, Islândia, as mulheres retornam ao trabalho antes de seus bebês completarem 6 meses de vida. Já na Alemanha ser mãe e trabalhar não combina semanticamente na mesma frase!
Para luxemburgueses e seus 50% de imigrantes, trabalhar e ser mãe não é assunto polêmico. Eu
tenho muitas amigas mães aqui em Luxemburgo. Elas são de várias
nacionalidades, algumas trabalham outras não. Quando eu voltei ao
trabalho o Benjamin tinha 5 meses, nenhuma delas em nenhum momento me
disse se o que eu estava fazendo era certo ou errado.
Porém na Alemanha, eu senti que mães que voltam logo ao trabalho não são
exatamente bem-vistas... Esse sentimento não é só meu. Algumas americanas que conheci na night, que moram na Alemanha sentiram a mesma desaprovação de mães alemãs ao voltarem cedo ao trabalho.
Pera aí... Sou mãe, namorada, trabalho e vou pra balada???Yeah, baby |
Na
Alemanha existem homens, mulheres e mães. A Alemanha é um país
desenvolvido, rico, liberal – tem seus muitos gays políticos.
União estável entre gays e lésbicas é algo comum e trivial, não
seria tema principal de nenhuma novela, já que a maioria das pessoas
não liga para o que você faz com sua vida sexual...
Os
homens e mulheres aparentemente têm direitos igualitários no
trabalho. Até você se tornar mãe. Mãe... Não pai.
Na
Alemanha, existe o Mutterschutzfrist (licença maternidade), que consiste no
período de 6 semanas antes da data prevista do parto e 8 semanas após o
nascimento do bebê. Após o Mutterschutzfrist começa o Elternzeit ("tempo para os pais"), onde pai e mãe decidem
quando tempo de dedicação total e exclusiva vão dar ao seu bebê.
Este período pode ser de no mínimo 6 meses e no máximo 3 anos. O homem
também pode tirar, desde que a mulher volte a trabalhar. Os primeiros 12
meses são remunerados, os demais não.
Muitas
alemãs aproveitam essa oportunidade para passar os 3 anos em casa (raramente o homem pega mais que 2 meses).
Às vezes 6 ou 9 anos, quando engatam uma ou mais duas gravidezes.
Outras passam um ano e meio, ou somente o primeiro ano, depende muito
da mulher.
Mas
raramente, uma mãe voltará ao trabalho quando o bebê tiver 4
meses, como é no Brasil, ou 3 meses, como é na França.
Alias,
uma mãe que volta ao trabalho tão cedo, pode ser considerada uma
“Rabenmutter”, uma mãe egoísta, que não quer cuidar dos
filhos. Isso é culturalmente muito mais forte do que eu imaginava.
Ps: o que os corvos fazem com seus filhotes? Alguém sabe me dizer?
Mãe corvo, vulgo, uma mãe ruim |
Se
formos fazer um exame mais preciso, encontraremos outras variáveis
que influenciam nessa decisão. A lei dos 3 anos de afastamento do
trabalho, criada em 2000, provavelmente não foi criada somente pensando
no bem das mães, mas sim, para aumentar os índices de natalidade da
Alemanha. O país vive há muitos anos abaixo do índice considerado
essencial para aumentar uma população, que é acima de 2. A
Alemanha tem o índice de 1.38 nascimentos por mulher, considerado
muito abaixo do desejado.
Porém, a criação dessas leis em relação a maternidade e paternidade não funcionou para aumentar a taxa de natalidade. Por quê? Primeiro, as empresas não são muito “family-friendly”, um bom trabalhador vai ficar no trabalho das 8h às 18h ou até mais tarde. Em países family-friendly, como a Noruega, as pessoas trabalham até às 16h ou 16h30, podendo passar mais tempo com suas famílias e filhos. No país da Oktoberfest, não há muitas vagas nas creches, e quando há, são poucas cuidadoras para muitas crianças, o que não é muito bom. As creches também ficam pouco tempo abertas, às vezes só meio período, o que impossibilita muitas mulheres de trabalharem. Muitas pessoas então decidem focar somente na carreira, em vez de ter que escolher somente pela maternidade, ou no caso do homem, ter pouco tempo para a família. Outro problema, o de que algumas mulheres desejariam voltar cedo ao trabalho, mas seriam mal vistas por uma comunidade muito grande.
Porém, a criação dessas leis em relação a maternidade e paternidade não funcionou para aumentar a taxa de natalidade. Por quê? Primeiro, as empresas não são muito “family-friendly”, um bom trabalhador vai ficar no trabalho das 8h às 18h ou até mais tarde. Em países family-friendly, como a Noruega, as pessoas trabalham até às 16h ou 16h30, podendo passar mais tempo com suas famílias e filhos. No país da Oktoberfest, não há muitas vagas nas creches, e quando há, são poucas cuidadoras para muitas crianças, o que não é muito bom. As creches também ficam pouco tempo abertas, às vezes só meio período, o que impossibilita muitas mulheres de trabalharem. Muitas pessoas então decidem focar somente na carreira, em vez de ter que escolher somente pela maternidade, ou no caso do homem, ter pouco tempo para a família. Outro problema, o de que algumas mulheres desejariam voltar cedo ao trabalho, mas seriam mal vistas por uma comunidade muito grande.
Na
época do DDR (Deutsche Demokratische Republik – República
Democrática da Alemanha) a maioria das mulheres retornava ao
trabalho quando os bebês tinham algumas semanas de vida, trabalhavam
em menores períodos, mas não perdiam sua vida no “workforce”
(força de trabalho). O Estado também não estava interessado em
perder parte de sua população porque agora elas seriam mães, e por
isso garantiu creches para todo mundo... Culturalmente essa revolução
não pegou. A Alemanha é ainda bem conservadora quando o assunto é
maternidade. Apesar de que não há nenhuma relação entre bebês
que foram cedo para creche com problemas psicológicos e afetivos.
Alias, muitos alemães que conheço foram cedo para creches, e são
pais e pessoas maravilhosas!
As imagens de uma creche no DDR eram provavelmente essas |
E não essas! |
E
o papel do pai? É prover financeiramente para a família. Ninguém
critica um pai por voltar logo ao trabalho, ou não pegar seus meses de licença paternidade. Já na Suécia, os pais são mal
vistos se não tiram sua licença, o que criou uma cultura, em que os
pais também devem passar tempo com seus filhos e ajudar nas tarefas
de casa.
Na
Islândia, mães e pais têm os mesmos direitos. Ganha-se uma licença
de nove meses ao todo, três meses para a mãe, três meses para o
pai e outros três que podem ser usados e divididos pela mãe e pelo
pai do modo que o casal quiser.
Essa
regra além de dar valor igual a mães e pais desde o início traz
uma vantagem a mais, a de que as mulheres deixam de ser um fator de
risco por causa da maternidade. Caso uma empresa considere o risco de
contratar uma mulher, terá de encarar o fato de que o homem
apresenta o mesmo risco, ainda mais quando um pai que não usufrui de
sua licença paternidade é tido como irresponsável e acaba mal
visto pela sociedade.
Com
isso, as mulheres sabem que podem se educar e ter uma carreira bem
sucedida, mesmo com filhos. E os números confirmam: 88% das mulheres
em idade economicamente ativa trabalham, a mais alta taxa de
participação feminina no mercado de trabalho do mundo. Ao mesmo
tempo, a taxa de fertilidade na Islândia é uma das mais altas da
Europa, com uma média de dois filhos por mulher.
O
fato de que aqui a maternidade não se opõe ao trabalho ou ao estudo
muda toda a estrutura de vida das mulheres. Elas não se sentem
obrigadas a encaixar suas vidas no esquema
escola-trabalho-casamento-filhos, o que abre inúmeras portas (os
últimos 4 parágrafos foram reproduzidos exatamente do texto
original, todos os links estão ao fim do texto).
O
estranho é que essas características na Islândia, fez com que as
taxas de natalidade aumentassem. Isto é, um país que em que as
mulheres logo retornam ao trabalho e os pais são vistos como pessoas
que tem um papel tão importante como o da mãe, proporcionou uma
decisão mais fácil de aumentar o número de filhos. A Islândia
também é um dos países com uma taxa de divórcio baixa, comparada
com outros países da Europa, em que são muito altas, inclusive, da
Alemanha.
Em alemão existe uma palavra para descrever uma mãe egoísta, mas nenhuma para o pai... Não existe um "Rabenvater"... Quando se fala em desenvolvimento do bebê, só escuto do quanto a criança precisa da mãe. Em que se baseiam essas teorias? Para mim, na minha vida, uma criança precisa tanto do pai, quanto da mãe, quanto de uma comunidade inteira, cheia de amor, novas experiências e ricas interações para proporcionar a criança.
Se quiserem ver os outros países aqui vai o link |
Em alemão existe uma palavra para descrever uma mãe egoísta, mas nenhuma para o pai... Não existe um "Rabenvater"... Quando se fala em desenvolvimento do bebê, só escuto do quanto a criança precisa da mãe. Em que se baseiam essas teorias? Para mim, na minha vida, uma criança precisa tanto do pai, quanto da mãe, quanto de uma comunidade inteira, cheia de amor, novas experiências e ricas interações para proporcionar a criança.
Um bebê ser criado sozinho em casa por somente uma pessoa de referência é algo totalmente novo, vamos dizer, de uns 50 ou 60 anos para cá. Alias, muitas mulheres queimaram sutiãs, porque se viam não só como mães, mas sim como mulheres, trabalhadoras, amantes, amigas, pessoas atuantes na sociedade e com papéis diferenciados .
A
maioria dos pais (os da classe média principalmente) consideram
importante que os filhos estudem, aprendam, façam um curso
universitário. Isso eu incluo, filhas também. Nunca meus pais me
falaram que eu estaria estudando muito para um dia parar tudo e
cuidar somente dos meus filhos.
Meu
filho é sim a coisa mais importante do mundo para mim. Mas eu sei
que eu seria provavelmente a coisa mais importante para ele por um
período, ele terá muitos amigos, uma namorada (ou namorado, quem
sabe?), e seus próprios filhos um dia. E ninguém espera dele:
estudar, trabalhar muito, ralar, e depois ficar em casa cuidando de
seus filhos por muitos anos.
Uma
mãe que se ama, é o melhor exemplo para os filhos aprenderem a se
amarem. Ninguém vai me convencer que só há um jeito de amar. É
possível ser mãe, amorosa, presente, trabalhadora, mulher e amiga
tudo ao mesmo tempo. Talvez não com o corpo mais elegante do mundo.
Como
ficariam então famílias que há somente pai e filhos, por exemplo?
Seus filhos teriam problemas de desenvolvimento por não terem uma
mãe, por terem que ir para a creche? Como ficariam famílias gays?
Lésbicas? Famílias em que os cuidadores são os avós? Acho que
existem muitas formas de se educar alguém, sem que as pessoas sejam
prejudicadas por não “combinarem” com o estilo clássico de
criação de filhos. Alias, qual família é clássica hoje em dia?
É uma escolha - julgar ou tentar entender a dinâmica diferente de uma família que não a sua. Provavelmente só uma dessas escolhas te torna mais tranquila e com um número maior de bons amigos e experiências de vida (para você e seus pequenos)...
Algumas mulheres que persistiram em suas vidas profissionais recheiam a vida do meu pequeno Benjamin - sua médica, educadora, diretora da creche, doula, parteira... Vou dizer que o Ben gosta da participação delas em sua vida.
Algumas mulheres que persistiram em suas vidas profissionais recheiam a vida do meu pequeno Benjamin - sua médica, educadora, diretora da creche, doula, parteira... Vou dizer que o Ben gosta da participação delas em sua vida.
Talvez
o fato de em Luxemburgo as pessoas serem expostas a várias culturas, fazem elas perceberem que não há
tantas certezas na vida. Não há dicotomias como “o certo e o
errado” e por isso, em Luxemburgo as mamães se julgam
menos. A maneira de criar os filhos são tão diferentes que ninguém
pode dizer se o que você está fazendo é certo ou errado. Então,
elas simplesmente aproveitam as amigas e seus bebês.
As pessoas muitas vezes se enganam com a palavra “cultura”, como se o fato de ser “cultura” - um comportamento, uma tradição repetida há tanto tempo que as pessoas esqueceram de suas origens - fosse por si só “bom”. Quando mistura então cultura com nacionalidade, a coisa fica mais difícil de ser vista com outros olhos. Questionar sua própria cultura não diz que você não vê várias características interessantes, eficientes e boas dela, só quer dizer, que nem tudo é perfeito, correto ou melhor, de que como os outros fazem...
Por último, vou deixar uma pulga atrás de suas orelhas (ela ainda está na minha): Qual a relação entre altas taxas de divórcio, baixas taxas de natalidade, poucas mulheres em cargos de liderança na Alemanha e na força de trabalho tem em comum? Ainda não faço a mínima ideia.
Cíntia
Links:
http://www.dw.de/viel-geld- wenig-erfolg-familienpolitik- in-deutschland/a-16875694
http://www.workingmother.com/ special-reports/what-moms- choose-stay-home-or-work
http://www.nytimes.com/2011/ 06/29/world/europe/29iht- FFgermany29.html?_r=2&scp=4& sq=germany%20women&st=cse
http://www.sciencedirect.com/ science/article/pii/ S0885200606000251
http://momastery.com/blog/ 2012/01/04/2011-lesson-2-dont- carpe-diem/
http://www.bib-demografie.de/ SharedDocs/Publikationen/DE/ Broschueren/keine_lust_auf_ kinder_2012.pdf?__blob= publicationFile&v=17
http://www.nytimes.com/2010/ 01/24/fashion/24marriage.html? pagewanted=all&_r=0
http://blogs.iadb.org/ideacao/2015/03/09/como-vivem-mulheres-pais-mais-igualitario-mundo/
As pessoas muitas vezes se enganam com a palavra “cultura”, como se o fato de ser “cultura” - um comportamento, uma tradição repetida há tanto tempo que as pessoas esqueceram de suas origens - fosse por si só “bom”. Quando mistura então cultura com nacionalidade, a coisa fica mais difícil de ser vista com outros olhos. Questionar sua própria cultura não diz que você não vê várias características interessantes, eficientes e boas dela, só quer dizer, que nem tudo é perfeito, correto ou melhor, de que como os outros fazem...
Por último, vou deixar uma pulga atrás de suas orelhas (ela ainda está na minha): Qual a relação entre altas taxas de divórcio, baixas taxas de natalidade, poucas mulheres em cargos de liderança na Alemanha e na força de trabalho tem em comum? Ainda não faço a mínima ideia.
Cíntia
Links:
http://www.dw.de/viel-geld-
http://www.workingmother.com/
http://www.nytimes.com/2011/
http://momastery.com/blog/
http://www.bib-demografie.de/
http://www.nytimes.com/2010/
http://blogs.iadb.org/ideacao/2015/03/09/como-vivem-mulheres-pais-mais-igualitario-mundo/