Placa de volta às aulas que são colocadas em setembro todos os anos |
Eu e
minha malinha cheia de testes psicológicos chegamos à escola e de repente começa
a criançada vir correndo, me abraçar, me chamar de Joffer (professora em
luxemburguês) e perguntar quando elas vão ser chamadas para fazer as
atividades.
As escolas
luxemburguesas tem algo muito especial comparado a outras escolas desse mundão:
o número alto de alunos estrangeiros, que não tem como primeira língua a
luxemburguesa. Metade dos alunos nas escolas são estrangeiros. Desses estrangeiros, a maioria são portugueses. Português é a língua mais falada entre as crianças estrangeiras:
Em
algumas vilas, quase 70% dos alunos são estrangeiros. Aqui vão alguns exemplos para os interessados:
Escolas fundamentais por comunas
|
Número total de alunos
|
Número total de alunos estrangeiros
|
Alunos Estrangeiros %
|
Larochette
|
255
|
177
|
69,4%
|
Esch-sur-Alzette
|
3252
|
2248
|
69,1%
|
Differdange
|
2687
|
1798
|
66,9%
|
Ettelbruck
|
773
|
512
|
66,2%
|
Vianden
|
180
|
119
|
66,1%
|
Wiltz
|
589
|
385
|
65,4%
|
Echternach
|
520
|
332
|
63,8%
|
Luxembourg
|
4925
|
3105
|
63,0%
|
Pétange
|
1780
|
1040
|
58,4%
|
Schieren
|
187
|
109
|
58,3%
|
Diekirch
|
540
|
311
|
57,6%
|
Strassen
|
530
|
301
|
56,8%
|
Rumelange
|
648
|
365
|
56,3%
|
Mondorf-les-Bains
|
384
|
215
|
56,0%
|
Reisdorf
|
157
|
86
|
54,8%
|
Beaufort
|
315
|
172
|
54,6%
|
Lintgen
|
244
|
132
|
54,1%
|
Hesperange
|
1074
|
581
|
54,1%
|
Colmar-Berg
|
198
|
107
|
54,0%
|
Schifflange
|
968
|
512
|
52,9%
|
Remich
|
288
|
152
|
52,8%
|
Grevenmacher
|
423
|
219
|
51,8%
|
Mersch
|
796
|
409
|
51,4%
|
Bettendorf
|
261
|
134
|
51,3%
|
Walferdange
|
568
|
288
|
50,7%
|
Äerenzdall
|
312
|
157
|
50,3%
|
Troisvierges
|
339
|
169
|
49,9%
|
Kopstal
|
260
|
129
|
49,6%
|
Dudelange
|
1849
|
912
|
49,3%
|
Bettembourg
|
929
|
458
|
49,3%
|
Bertrange
|
520
|
250
|
48,1%
|
Kayl
|
837
|
401
|
47,9%
|
Mamer
|
695
|
322
|
46,3%
|
Weiswampach
|
113
|
52
|
46,0%
|
Niederanven
|
377
|
172
|
45,6%
|
Sandweiler
|
275
|
124
|
45,1%
|
Mertert
|
403
|
181
|
44,9%
|
Berdorf
|
200
|
88
|
44,0%
|
Schuttrange
|
278
|
119
|
42,8%
|
Steinsel
|
367
|
156
|
42,5%
|
Hobscheid
|
286
|
116
|
40,6%
|
Bissen
|
324
|
131
|
40,4%
|
Roeser
|
443
|
179
|
40,4%
|
Tuntange
|
119
|
48
|
40,3%
|
Sanem
|
1424
|
572
|
40,2%
|
Syndicat Billek
|
387
|
155
|
40,1%
|
Lorentzweiler
|
254
|
101
|
39,8%
|
Fischbach
|
119
|
47
|
39,5%
|
Septfontaines
|
69
|
27
|
39,1%
|
Clervaux
|
433
|
168
|
38,8%
|
Steinfort
|
377
|
146
|
38,7%
|
Dalheim
|
177
|
67
|
37,9%
|
Kehlen
|
391
|
148
|
37,9%
|
Waldbredimus
|
88
|
33
|
37,5%
|
Stadtbredimus
|
152
|
57
|
37,5%
|
Mertzig
|
223
|
83
|
37,2%
|
Esch-sur-Sûre
|
239
|
87
|
36,4%
|
Bous
|
138
|
49
|
35,5%
|
Feulen
|
172
|
59
|
34,3%
|
Betzdorf
|
405
|
135
|
33,3%
|
Leudelange
|
177
|
59
|
33,3%
|
Junglinster
|
594
|
198
|
33,3%
|
Rambrouch
|
415
|
137
|
33,0%
|
Vichten
|
98
|
32
|
32,7%
|
Koerich
|
240
|
78
|
32,5%
|
Beckerich
|
201
|
65
|
32,3%
|
Dippach
|
313
|
101
|
32,3%
|
Erpeldange
|
186
|
59
|
31,7%
|
Contern
|
291
|
92
|
31,6%
|
Tandel
|
216
|
68
|
31,5%
|
Syndicat SCHOULKAUZ
|
201
|
62
|
30,8%
|
Lenningen
|
239
|
73
|
30,5%
|
Heffingen
|
131
|
40
|
30,5%
|
Käerjeng
|
836
|
252
|
30,1%
|
Useldange
|
168
|
50
|
29,8%
|
Biwer
|
168
|
50
|
29,8%
|
Frisange
|
333
|
99
|
29,7%
|
Consdorf
|
178
|
52
|
29,2%
|
Waldbillig
|
178
|
52
|
29,2%
|
Redange-sur-Attert
|
259
|
74
|
28,6%
|
Syndicat SYNECOSPORT
|
303
|
86
|
28,4%
|
Bourscheid
|
148
|
42
|
28,4%
|
Boevange/Attert
|
219
|
60
|
27,4%
|
Weiler-la-Tour
|
266
|
70
|
26,3%
|
Mompach
|
112
|
29
|
25,9%
|
Ell
|
128
|
33
|
25,8%
|
Syndicat Harlange
|
386
|
97
|
25,1%
|
Schengen
|
430
|
108
|
25,1%
|
Syndicat SISPOLO
|
498
|
125
|
25,1%
|
Mondercange
|
460
|
112
|
24,3%
|
Nommern
|
133
|
32
|
24,1%
|
Grosbous
|
80
|
19
|
23,8%
|
Saeul
|
52
|
12
|
23,1%
|
Wahl
|
101
|
22
|
21,8%
|
Wincrange
|
377
|
82
|
21,8%
|
Préizerdaul
|
148
|
30
|
20,3%
|
Garnich
|
191
|
37
|
19,4%
|
Goesdorf
|
155
|
29
|
18,7%
|
Rosport
|
198
|
35
|
17,7%
|
Reckange-sur-Mess
|
195
|
31
|
15,9%
|
Total: écoles fondamentales communales
|
46518
|
22691
|
48,8%
|
Autres écoles fondamentales
|
|||
Eis
schoul
|
88
|
44
|
50,0%
|
Classes
d'accueil étatiques
|
154
|
154
|
100,0%
|
Ecole privee Notre-Dame Sainte-Sophie
|
96
|
50
|
52,1%
|
Total: autres écoles fondamentales
|
338
|
248
|
73,4%
|
Total: écoles fondamentales
|
46856
|
22939
|
49,0%
|
Além disso,
há 10 anos a primeira língua falada por 60% das crianças era o luxemburguês.
Hoje, a primeira língua falada por 60% das crianças que moram em Luxemburgo é
uma língua estrangeira:
Essa
variedade, e as escolas luxemburguesas em si, me encantam. Primeiro porque os
professores são muito queridos comigo. Querem saber sobre a pesquisa, me ajudam
a achar bons horários para fazer as atividades com as crianças, me perguntam
como é que é essa história de aprender alemão no Brasil.
Cada sala
de aula é diferente. Os professores podem fazer com elas o que bem entenderem. Além
das carteiras e lousa, algumas têm jogos, casinhas, sofás, tapetes, mil
desenhos, desafios, arte, cada sala tem a cara e o jeitinho do professor.
Há também
espalhado pela escola cesta de frutas com bananas, maçãs, peras, para as crianças
se esbaldarem. As crianças vão para a piscina, vão conhecer o São Nicolau (não Papai
Noel), tem aulas de ciências, matemática, artes, esporte, luxemburguês, alemão,
alemão, alemão, alemão.
As
escolas são lindas. Pequenos castelinhos, recheados de crianças brincando e
jogando, muito coloridas, cheio de escadas que me matam de cansaço.
Crianças
falando em várias línguas, professores contentes com seu trabalho... Acho que o
fato de Luxemburgo ser o país que melhor paga professores na Europa (e no mundo!) também
ajuda com os sorrisos. Eles têm também muitas férias. Links sobre esses salários interessantes, estão no fim do texto.
Há algumas
semanas atrás saiu uma reportagem de que algumas crianças foram reprimidas em
escolas luxemburguesas por estarem falando em português.
Eu não consigo
imaginar isso acontecendo nas escolas em que eu estou trabalhando. Provavelmente
foi um caso isolado. Até porque, pedir para as crianças pararem de falar português
faria com que as escolas praticamente ficassem em silêncio.
Ao passar
pelos corredores da escola, a língua que mais escuto ser falada é o português.
Bem, isso pode ser também pelo fato de eu ser brasileira. Meus ouvidos são aguçados para o Português! Em cada porta das salas de aula, há uma lista com o nome das crianças e eu só
enxergo “da Silva Morais”, “Carvalho Pinto”, “Moreira Pereira”, “Pereira Morais
Pinto da Silva” e por aí vai. Até alguns dos professores têm nomes portugueses,
quando não, tem nomes italianos, franceses, irreconhecíveis e quando achei um “Hans Müller”, ele tinha cara de asiático.
Eu fiquei de cara quando achei o Hans! Até o assustei! |
Um dos
professores, com sobrenome italiano, mas de coração luxemburguês (seus pais
italianos, migraram para Luxemburgo antes de ele nascer) me disse que acha
muito importante que as crianças aprendam muito bem suas línguas maternas. Ele as
incentiva a lerem em português. Alias, todas as escolas tem bibliotecas e elas
tem vários livros infantis portugueses. Ele acredita, assim como a teoria
realmente mostra, que quanto mais você conhece sua língua materna, melhor e
mais rápido aprende outras línguas.
As crianças
estão morrendo de vontade de aprender. Imaginem, eu aplico testes nelas. Os
testes são principalmente para avaliar processos de aprendizagem da língua
materna e de outras línguas. Os testes em alemão são difíceis, mas a maioria delas ficam
ansiosas para que eu vire a página para que elas mesmas possam testar seu vocabulário!
Infelizmente, algumas delas ficam bastante frustradas. Não é fácil aprender o alemão!
Acho que
a questão mais complicada para um professor deve ser: como ensinar meus alunos
que aprender é algo gostoso. O ensino muitas vezes acaba
pecando em ensinar o aluno a tirar “notas” e não a ficarem sob controle do
próprio aprendizado, daquilo que é interessante, da curiosidade inata das crianças.
Será que
as escolas luxemburguesas estão conseguindo fazer isso? Não sei. Não consigo
responder a essa pergunta ainda. O que sei, que já é um passo muito importante
para dizer que é uma escola interessada em instigar nos alunos a vontade de aprender
é que os professores se baseiam em objetivos de ensino (e não em notas) para
dizer se um aluno está indo bem, isto é: não importa que nota o aluno tirou, e
sim se ele aprendeu.
Enquanto
isso, nos corredores, várias crianças portuguesas “chegam ao meu pé” e
perguntam: Posso fazer também as atividades? Também falo português!
Imaginem
um país que a diversidade é tão alta, que além de ter que se elaborar maneiras
eficientes de ensinarem crianças conteúdos escolares importantes, ter que se
criar estratégias para ensinar crianças outras línguas. Não uma língua... 4!
Essas crianças, além de suas línguas maternas (muitas vezes pai e mãe falam
línguas diferentes), vão aprender luxemburguês, alemão, francês e inglês.
Eu me pergunto, como eles dão conta de ensinar tudo isso? Muitos países mal ensinam uma segunda língua. E estudos importantes indicam que falar duas línguas podem beneficiar crianças em famílias com baixos rendimentos (link).
Educação é assunto sério. Não dá para:
Bom, vou ficando por aqui.
Segunda estarei lá a conversar com os miúdos :)
Cíntia
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http://www.men.public.lu/fr/systeme-educatif/statistiques-et-analyses/index.html
Aqui estão alguns artigos sobre o salário dos professores luxemburgueses:
no brasil eles tentam ensinar ingles mas ninguem aprende no ensino medio eles ensinam espanhol e ingles e tambem ninguem aprende porque o ensino no brasil e o pior de todos
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