Conhecer
a sogra e o sogro sempre é um episódio que envolve o parceiro (a) avisar seu
companheiro (a) sobre algumas coisas que ele pode esperar e até muitas vezes
dar dicas de como se comportar. Mas e se você não fala a língua dos sogros?
Momentos
embaraçosos sempre vão ocorrer se você faz parte do grupo de “casais
internacionais”. Já com os casais “nacionais” ocorrem, imagine com o do outro
grupo.
Principalmente
se você for de um país “menos desenvolvido”, a tecnologia do transporte
público, de privadas e coisinhas pequenininhas não identificáveis vai fazer
você virar motivo de piada!
Aqui em
Luxemburgo, entre os amigos essas histórias são as mais contadas!
Luxemburgo
é um dos países europeus com maior número de estrangeiros. Quase metade da
população daqui são de estrangeiros! Algo muito comum de se encontrar
em Luxemburgo são casais internacionais. Dos nossos amigos casais daqui, poucos
são da mesma nacionalidade. Conhecemos uma alemã que conseguiu juntar a escova
de dente com um francês, apesar de toda sua exigência culinária. Uma brasileira
com um espanhol, uma martinicana com um islandês (eu mal sei como se escreve em
português as nacionalidades deles), uma peruana com um canadense, um maltense
(de Malta?) com uma polonesa, uma polonesa com um brasileiro, uma ucraniana com
um romeno, uma indiana com um alemão e a mistura não para!
Um casal internacional tem alguns problemas (e alegrias) que um casal de
mesma nacionalidade nem sempre tem. Aqui vão alguns deles:
1 – A língua
2 – A cultura
3 – Visitas aos familiares
4 – O sentimento de nação
O primeiro é a barreira da língua. Em que língua falar? Perguntas como
estas podem passar pela cabeça do casalzinho: devo aprender a língua do meu
parceiro (a)? Falamos em inglês mesmo? Em que língua falar entre nós quando
tivermos filhos? Vou conseguir falar com meu sogro (a)? etc.
Aqui em Luxemburgo muitos casais não falam a língua do parceiro (a).
Afinal, quem quer aprender islandês (desculpem os islandeses)? Muitos não falam a língua dos filhos
também! O que alias, é muito estranho. Os filhos de casais estrangeiros que
nascem aqui aprendem luxemburguês quando crianças, e entre seus amigos falam em
luxemburguês. Muitos são os estrangeiros que não falam o luxemburguês.
Usualmente quem chega aqui faz aulas ou de francês ou de alemão. Então imagine
você ver seu filho falando em outra língua com seus coleguinhas e você não
entender nada? Para os filhos, é a maneira perfeita de fofocar na frente dos
pais sem ser reprimido!
Fofoca sem repressão |
Outro problema é a cultura. Um vem de um país católico onde casar é
muito importante, outro acabou de sair do comunismo e acha tudo isso
irrelevante, outro toma banho a noite, outro quando acorda, outro tem uma
família que fala muito, às vezes muito alto, o outro tem uma família que se
alguém fala é para pedir a manteiga. Uma cultura é ciumenta, a outra não. Uma
cultura fala mais do que faz, a outra faz mais do que fala. E por aí vai!
Visitar a família sempre é motivo de planejamento. Ainda mais se você
mora na Europa e sua família na Ásia ou América – quanto tempo ficar? Aonde?
Como lidar com o sogro e a sogra? Se não fala a língua então – quantos livros
devo levar? Se tiver filhos então! O que levar para os filhos não fazer o casal
passar vergonha num voo de mais de 4 horas?
Por último, nessa história toda, como que fica o sentimento de
“nacionalidade” dos indivíduos da relação? Dificilmente uma pessoa que escolhe
namorar alguém de outro país e até morar em outro país é muito apegada a tais
sentimentos. Você começa a perceber que esse sentimento é realmente construído,
pela escola, alguns pais, faculdade, propaganda eleitoral ou propaganda em
geral e começa a se questionar até quando ele vale a pena, para quem e para o
que. Assim como o quão real ou absurdo ele é.
Depois que você passa a conhecer profundamente outras culturas esse
sentimento vai se dissolvendo. É isso que a maioria dos casais daqui relata. O
que fica mesmo é a saudade das pessoas que você ama, de alguns trejeitos e
jeitos de se relacionar, mas definitivamente você não sonha com a bandeira de
seu país (ou seus governantes e políticas).
Na copa do mundo então isso é nítido de perceber. No meu caso aqui, eu
realmente fiquei confusa para quem iria torcer. Por mim a Alemanha ou o Brasil
poderiam ganhar que eu estaria contente. Claro, não precisavam nos humilhar
também. Essa parte deu uma magoada. Muitos me condenariam por isso, mas já me
sinto também “alemã”. Como também me sinto luxemburguesa. Bastante! O governo
luxemburguês criou o OLAI que é projeto do governo em que você tem direito de
assistir aulas sobre a história de Luxemburgo, fazer três cursos de línguas
pagando somente 10 euros por cada e participar de um dia em que você conhece
como funciona o sistema escolar, econômico, governamental do país. Ao fim do
projeto você se sente muito mais parte do país do que poderia imaginar!
Isso também cria uma confusão. Muitas pessoas se definem pelo local em
que nasceram. Se você não se define mais dessa forma, você parece ficar numa
espécie de bolha anárquica flutuante. Talvez trabalhar para o Parlamento
Europeu seria até uma terapia.
Casais internacionais não é mais novidade, é reflexo da globalização, da
diminuição de conflitos entre os países, assim como da diminuição de
preconceitos! O que é uma ótima novidade. Hoje se é permitido trabalhar e viver
em outro país com relativa facilidade (dependendo do país!) e apesar da
burocracia com visto, nem sempre demora, para os estrangeiros conseguirem
permissão de trabalho.
No futuro o negócio vai ficar mais complicado ainda! Exemplo: Um casal –
alemão e brasileira que moram em Luxemburgo, tem um filho que vai ter cidadania
alemã, brasileira e luxemburguesa. Esse filho casa com uma tailandesa na
Rússia. Como é que fica a nacionalidade do neto do casal? Confuso não?
Em alguns países, como Cyprus, ¾ dos casamentos são internacionais!
Imagine o sentido de “país”, “nação” que o povo de lá tem? (link para o artigo)
Os países com mais casais internacionais da Europa são Liechtenstein,
Luxemburgo, Cyprus e Suíça. Também, países pequeninos como esses, não é muito
difícil ir para outro país bater perna e conhecer lá um gatinho ou gatinha.
Os suíços casam-se muito com alemães, franceses, italianos. Vocês já
podem imaginar a razão disso.
Também há os casais internacionais com questões mais complicadas que
simplesmente a paixão. Um passarinho verde me contou que há muitos europeus que
se casam com mulheres de países mais pobres para ter uma bela empregada em
casa. Existem sites especializados para encontrar parceiras russas, filipinas,
ucranianas, vietnamitas, brasileiras, tailandesas para casar! Podem fuçar na
internet que acham! Esse artigo também trata desse tópico.
Para alguns pesquisadores (ver link), restrições sociais tradicionais já
vem se desmanchando há alguns anos, essa característica pode estar deixando alguns
jovens se sentindo sem raízes e mais abertos ao casamento com alguém de um país
diferente. Infelizmente ainda não há dados para saber quais são as consequências
a longo prazo de pessoas desapegadas as tradições e aos seus países de origem. Provavelmente,
não é nada muito grave. Talvez para os patriotas somente.
Outro aspecto das relações internacionais entre casais é o
bilinguismo. No caso de Luxemburgo então, uma criança pode aprender até 6 línguas,
se os pais falam outras que não francês, alemão, inglês e luxemburguês.
Se quiserem discutir o assunto, fica a pergunta: Qual a opinião de vocês sobre casais internacionais?
Abraços!
Vi várias coisas reais nesse texto! hehehe ;)
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