domingo, 27 de julho de 2014

Sobre o direito de chorar dos bebês





Eu sei, eu sei, meus últimos posts foram sobre maternidade, bebês, mas pelo momento é o que estou vivendo full time.



“Bebês choram!" - Ouvi de uma colega de quarto na maternidade.



Na época não dei muita atenção. Muito menos pensei na quantidade de choro que seria e o que fazer para o bebê parar de chorar. Estatísticas revelam que um bebê de até 3 meses pode chorar entre 1 e 5 horas por dia... Ver link (em inglês - by the way - muito bom esse artigo).



5 HORAS??????????



Pois é, aí que está, quem disse que o bebê precisa parar de chorar se não há aparentemente nada de errado com ele?  - Fralda trocada, amamentado, nenhum desconforto, aquela lista de sempre...



Mas não, eu cheguei em casa da maternidade e a qualquer sinal de choro eu me desdobrava em 1000 para o choro cessar. Depois da lista verificada, era sair para passear, dançar para ele, cantar, pegar no colo, abraçar, dar beijinhos, me fazer de pateta, fazer o pai dele de pateta e por aí vai... Algumas vezes, nada funcionava.

Em 1, 2 e 3 Buaaaaaaaaa



Em uma situação em que eu e papis não sabíamos mais o que fazer para cessar o choro, resolvemos preparar o jantar ao som musical estridente do pequeno Benjamin. O colocamos na cadeirinha, trouxemos para perto de nós, para ele observar que estávamos ali e preparamos a janta, ou melhor, o pão com queijo da noite porque estava difícil ir para o mercado nas primeiras semanas.



Depois de 15 minutos de choro, o Benjamin para. Nesse momento já estávamos sentados comendo, afinal, não foi tão difícil preparar “os restos”, ele nos olha e sorri. Um sorriso muito lindo, calmo e tranquilo. E passou a “janta” com nós, ali, do ladinho, nos observando, nos ouvindo e às vezes soltava esse sorrisinho fofo.

Sorrisinho do Benjamin




Fiquei pensando no porque nós temos tanto medo do choro. Alias, eu tenho medo. O Dani lida muito melhor do que eu com choros. Ele vê o choro como uma das poucas formas que o Benjamin tem de se comunicar com nós (e até com ele mesmo, vai saber o que estava acontecendo dentro de seu corpinho). A não ser a outra forma que ele é mestre, que é abrir a boca e fazer um som tipo de cachorro babando - fome!



Os pais interpretam de mil formas um choro de bebê. E sentem essa necessidade de interpretar. Mas precisamos realmente identificar todo os choros do bebê? Dificilmente as pessoas deixam de fazer as discussões mirabolantes sobre o que está acontecendo com o bebê. Até passar o choro, ninguém chegar a conclusão alguma e seguir em frente!



O mesmo fazemos com adultos... Um adulto que sofre precisa rapidamente se livrar desse sofrimento. Tristeza é tratada com medicação hoje, e não com afagos, solidão, choros na cama, desabafo com um bom amigo, terapia... Tristeza passa, faz parte da vida e a melhor maneira de conviver com ela é a vivendo. Não há razão alguma para se livrar rapidamente dela. Ela é um sinal de algo. Poderíamos tentar entender o sinal ou caso seja irreconhecível, chorar aos prantos também funciona e muitas vezes, alivia.






Parece-me que o maior medo dos pais é que o bebê esteja sofrendo quando está chorando. E que isso vai causar um dano psicológico irreparável. Novamente, isso é uma interpretação nossa. E mesmo que ele estiver sofrendo (se não estiver doente, verificar lista, lista, lista, o tempo todo, não se esqueçam dela), não é nosso papel também ensiná-lo a lidar com seu sofrimento? Talvez o deixando um pouco sozinho, ou o abraçando, o segurando, até o choro passar? Só estar ali do ladinho, não o embalando, cantando ou fazendo qualquer coisa para ele parar...


Buuuuaaaa 2


Um bebê não vai deixar de confiar em seus pais, se quando estiver aprendendo a andar, ele cair e o pai não ver. Ele vai continuar tentando aprender a andar, e vai continuar amando o pai. Da mesma forma, não vai deixar de amar os pais se os pais não conseguem cessar seu choro.


Quem já não viu uma cena dessas e condenou os pais? É... Isso mudo depois de ser pai...



Às vezes penso que um bebê consegue quebrar qualquer teoria ou "verdade" aprendida nas universidades. Um bebê definitivamente é muito mais que um pacote de “comportamentos”. Ainda bem que ele é ainda um pacote de “desafios”.


Nos desafiando há 7 semanas!


Viva o choro! Que todo mundo tenha o direito de sofrer e aprender a lidar com as dificuldades...


Fica a dica - ótimo texto, recomendado pela minha amiga Renata Gomez "Abrace o bebê chorão":
http://vilamamifera.com/cafemae/abrace-o-bebe-chorao/


MoMiS




sexta-feira, 11 de julho de 2014

Benjamin visita o hospital e exame detecta culpa de mãe


Jamin de mal com a vida

 
Entra no carro e começa a matutar



Jamin chega no hospital

As mães ocidentais tem mania de sentir muita culpa. Foi o que a médica do hospital infantil de Luxemburgo me disse ontem.

Depois de um dia em que o Benjamin parecia ter passado pela pior das guerras, de tanto sofrimento, choro e berreiro, nós resolvemos ir para o hospital para ver o que estava acontecendo com nosso bebê que em geral (considerando suas 4 semanas) é um ser muito bonzinho... E comilão!



Depois de umas 7 horas de choro, foi entrar no carro que esse ser resolveu virar um anjo. Olhava tudo em volta, chegamos no hospital e ele praticamente cumprimentou os médicos. Eu e o Dani estávamos assim:




Já esperava ouvir um sermão dos médicos “Temos um monte de crianças doentes aqui e vocês trazem esse bebê que está quase dando uma palestra sobre como atingir o nirvana?”...

Mas não... Os médicos nos acolheram como se o Benjamin realmente tivesse sido ferido em combate.

Uma médica o examinou, fez alguns exames, disse que talvez pudesse ser gases. Gases... É a palavra e o palpite que mais escuto por um mês. Gases é o “sistema” para os bebês, tudo é culpa dos gases... Assim como quando ninguém sabe corrigir um erro nos corredores burocráticos, o culpado é o sistema.

Como a médica francesinha muito gentil, vale dizer, não tinha certeza, ela chamou uma médica mais experiente.

A médica chegou, conversou com o Benjamin, o Benjamin jogou seu charme e sorriso eu com a cara assim:



Ela olha para nós e fala: Seu bebê está perfeitamente saudável. Provavelmente está passando por um growth spurt. Não sei exatamente a tradução para o português, mas eu diria um estirão de crescimento. No link está a explicação (em inglês) do que é isso. Resumindo, ela disse que ele deve estar aprendendo coisas novas, fazendo novas conexões neuronais e isso gera um estresse muito grande ao bebê. A forma que ele sabe lidar com isso? Peito e choro. E voilá. Meus peitos viraram chupeta ontem.

Eu que sempre estudei somente o “comportamento” fiquei checando o dia inteiro o que eu poderia ter feito para ele estar daquela forma – fralda suja? Fome? Algum desconforto? Medir febre? Frio? Calor? Quer colinho? Carinho?

O Dani examinando as mesmas “variáveis”...

E aí vem a médica e diz: não é culpa de vocês... O Ben tem que lidar com seu crescimento, com novas informações... Nós também não ficamos ansiosos e nervosos diante de novos desafios? Mas nós temos outras maneiras de lidar com isso...

Por tanto tempo negligenciei variáveis que não estão ao meu alcance. Sim, aprendemos a nos culpar por tudo facilmente. Principalmente mães. Que cultura é essa que gera culpabilidade para assim educar nossas crianças? Não seria bom ter clareza daquilo que realmente é nossa culpa e daquilo que não temos controle? Sim, nem tudo temos controle. E saber disso, relaxa e traz mais paz para nossas vidas. Apesar de parecer o contrário, é muito importante saber lidar com a “falta de controle”.

Outra coisa que a médica falou foi: “Não, seu leite não é fraco. É outra coisa só vivida por mulheres ocidentais. Não existe leite fraco, seu leite é perfeito para o bebê. Nós que nomeamos “o bebê pega o peito nervoso”. Ele não está nervoso, ele está reagindo ao seu instinto”...

Instinto... Essa mulher seria massacrada na academia... Ao mesmo tempo, foi uma das poucas pessoas que acalmou esses dois pais de primeira viagem e trouxe relaxamento para nossos corpos, para assim continuarmos nutrindo e dando muito aconchego ao pequeno Jamin.

Achei tão interessante os cuidados que eles tiveram com nós. Em nenhum momento eles nos acusaram de estarmos exagerando. Eles examinaram o Jamin, com todo cuidado e levaram muito a sério nossos sentimentos e medos em relação ao que poderia estar acontecendo com o pequeno. Fiquei muito contente com o atendimento, o tempo dedicado dos médicos e o remédio de tranquilidade (não é Rivotril, nem Dramin hein povo, chama-se conselho aqui hihihihi) que nos deram.

Voltamos para casa felizes, o Jamin dormindo e comemos um kebab na volta... Sem eu ficar matutando se aquilo causaria cólicas no pequeno ou não. A noite dei o peito e disse “hoje você vai experimentar comida turca, vamos ver o que você vai aprender com isso, espero que seja bom para você, como foi para mim”.

Dica de leitura para as mamães, recomendado pela psicóloga Celina Lazzari (obrigada Ce, adorei!):

 
Beijos

Cíntia