Luxemburgo |
Uma vez, na Polícia Federal de Florianópolis, o Daniel,
alemão, encontrou o Fritz (não lembro o nome dele), outro alemão e combinamos
um barzinho na Lagoa... Ah... Que saudades da Lagoa:
Lagoa da Conceição, Florianópolis, Brasil |
Entre uma cerveja e outra, que os alemães consideravam
terríveis, pois não eram cervejas com a qualidade alemã, mas mesmo assim
estavam tomando...
... o Fritz falou:
- Uma brasileira não pode ser feliz na Alemanha.
Eu não sei se ele falou “Europa” ou “Alemanha”, agora já não
lembro mais. Mas o fato é que ele teve uma experiência ruim com a mulher
brasileira dele. Depois de uns anos na Alemanha, ela pediu "Socorro! Quero voltar ao
Brasil!".
Mesmo que muitos brasileiros não voltem, esse sentimento de
saudades e melancolia é muito grande entre os brasileiros que conheci morando
na Europa. Um ou outro, são desapegados, gostam da cidade em que vivem e não
voltariam ao Brasil de jeito nenhum, mas mesmo assim, suas mães estão lá no
Skype, toda semana. Quando não, todos os dias.
O imigrante, muitas vezes, é mal visto na Europa, diferente do Brasil.
Bom, claro que isso também não é regra. Tem muitos argentinos, bolivianos etc.,
que são mal vistos quando emigram para o Brasil. Assim como brasileiros de
outras regiões que emigram para São Paulo, Brasília e são mal vistos pelos próprios
brasileiros. Porém, a minha experiência é de que brasileiro gosta de um estrangeiro. Gosta de perguntar sobre o país dele, fica feliz se o imigrante
sabe falar uma palavra em português, faz mil perguntas e deseja muito que o
estrangeiro se sinta feliz no Brasil. Acha o máximo então, quando o estrangeiro
que veio para ficar um ano, acaba escolhendo morar no país.
Afinal, o Brasil é um país de imigrantes... Quem seríamos nós se não fosse toda essa mistura?
Já na Europa, o sentimento que tenho é que o imigrante tem
vergonha de ser imigrante. Principalmente quando não estão unidos, ou em bando.
Na França, os franceses reclamam dos marroquinos, na Alemanha, dos turcos, em
Luxemburgo, dos portugueses, e alguns desses imigrantes acabam incorporando uma
culpa que não os pertence. Afinal, foram esses países que incentivaram a
imigração, já que em um certo momento, eles precisavam muito desses imigrantes.
Outra coisa que acontece é eles receberem críticas por
andarem em bandos, falando a língua de origem de seus países e não se
“misturando”. Mas muitos imigrantes no Brasil, não tiveram essa dificuldade,
como se tem na Europa... Será que o bando é formado por querer ou por exclusão
daqueles que o criticam? Provavelmente há uma dose dos dois.
Ainda mais, existe uma cultura intensa, que ao estar em
bando, não é perdida. Isso não pode ser tirado das pessoas...
Mas do que afinal os imigrantes sentem saudades? Se eles
imigraram a situação em seus países não estava boa, salvo algumas exceções, de
pessoas que imigram somente para acompanhar parceiros e parceiras.
Os brasileiros que conheço sentem saudades do jeitinho
amoroso e acolhedor do brasileiro. Assim como do clima que é mais quente, das
conversas, da comida... Cada um provavelmente sente saudades de sua família e
amigos. Mas a maioria também diz que não sente saudade de muita coisa, como – burocracia
do governo, leis apegadas a religião, e não aos cidadãos, violência, falta de
segurança, falta de um bom sistema de transporte público, parques, etc.
Agora, será que é verdade que um brasileiro (a) não pode ser
feliz na Europa? Mas é claro que pode! E muito! Vai depender do que ele fizer com essa nova
experiência, de como ele vai decidir vivê-la e com quem. Sentimos falta daquilo
que acreditamos que nos tornava mais tranquilos e harmoniosos no Brasil. Mas
esses brasileiros nunca mais serão mesmos... Na volta para o Brasil, também sentiram
falta daquilo que alguns países proporcionam e que não há no Brasil.
Brasileiros felizes na Europa! |
A minha experiência poderia ser descrita muito bem como um
dia meu amigo me falou “Você tem um eterno dilema – devo viver no Brasil ou na
Europa?”. Tenho uma dupla vida e tanto me encaixo bem numa, como noutra. Vejo o
lado positivo e negativo dos dois mundos.
E sei que nunca mais vou me sentir tão completa em nenhum lugar que
viver, pois sempre vou ter um pezinho (amigos, família, experiências marcantes)
em cada canto desse mundo.
Isso não me tira do sério. Não acredito que onde as pessoas
nascem é uma condenação. Cada um é livre, ainda bem, para escolher onde quer
viver. Não devemos nada a governos nenhum. Assim como nossos pais não nos
criaram para viver com eles eternamente. Nenhum investimento é em vão. Quem
diria, por exemplo, que no meu trabalho em Luxemburgo eu estaria cuidando do
bem-estar de brasileiros?
Num passeio de fim de semana, nos belos parques que existem
por aqui, e que eu sentiria muita falta deles, encontramos um senhor de 91 anos
cuidando de umas flores. Paramos perto dele, para apreciar o seu trabalho e não
demorou muito para ele iniciar uma conversação.
Parque do centro da cidade de Luxemburgo |
Esse senhor luxemburguês lutou pela Alemanha na Segunda
Guerra Mundial, contou histórias de guerra, de viagens que fez, daquelas que
faltou fazer, das noras de Filipinas, dos segredos de jardinagem. Contou também
que fugiu do exercito alemão, foi desertado... Um homem que conseguiu observar
de perto que não fazia sentido nenhum seguir a tudo que um governo diz que o cidadão
deve cumprir.
Imigração não é simplesmente mudar de país. É mudar de
“mentalidade”, é misturar experiências e extrair algo novo delas. Por último, é
questionar nossos direitos e deveres perante qualquer sistema político, social
e até biológico. Afinal, é um desafio químico, físico e biológico para um
brasileiro passar por um inverno europeu.
Links:
http://focus-migration.hwwi.de/Brazil.5879.0.html?&L=1
Cíntia