"Jein", como dizem os alemães, que seria a junção de "Ja (sim) e Nein (não)... Manuais até existem, mas podemos colocar em prática dependendo de nosso contexto, momento de vida, repertório comportamental (e mais outras variáveis que eu e a autora esquecemos).
Agora... Uma vida significativa
nem sempre é agradável.
“Todas as pessoas querem ser
felizes ", já reconhecia Aristóteles.
Na Constituição dos EUA, a busca pela
felicidade foi tomada mesmo
como um dos direitos fundamentais, por
mais estranho que pareça, já que seu governo faz tantas guerras e seu povo se
alimenta muito mal, consome excessivamente e produz a maior quantidade de lixo
do mundo. Por último, a ideia de que "felicidade" pode ser um direito... É possível ser um desejo, mas um direito? Como regular isso?
Mas
uma vida feliz é automaticamente uma vida significativa?
Tatjana
Schell, professora na Áustria, que pesquisa por dez anos essa pergunta, diz que
não.
Para
ela, felicidade é viver um grande número de experiências agradáveis e positivas e evitar, emoções estressantes e negativas.
Mas
para a professora, ter uma vida significativa não se trata de ter momentos agradáveis,
mas sim, fazer o que é “certo”. Isso me pareceu um pouco coisa de filme
americano “do the right thing”...
Pessoas
que cuidam de alguém da família com necessidades especiais, por muitas vezes
idosos, por exemplo, podem apresentar sentimentos de estresse e cansaço e não
achar nada agradável a situação. Mas há nessa atividade um senso de “significativo”,
não comparável a outras atividades.
Isso é o que diz a autora, mas também o que penso, é que tal situação não é planejada ou escolhida e a maioria das pessoas não deseja estar nessa situação. Nem a pessoa que precisa ser cuidada (principalmente um idoso que viveu anos independente dos outros) e nem a pessoa que cuida.
O
que torna então uma ação significativa?
A pesquisadora austríaca encontrou em seus estudos empíricos, quatro condições:
1 – O contexto
Suas ações devem levar aos seus objetivos, mas seus objetivos podem ou não funcionar, dependendo do seu contexto. Tais objetivos, você deve acreditar que sejam os melhores e mais apropriados para você. Objetivos que tem relação com
seus valores e necessidades. Para ser fiel a si próprio, algumas vezes, você precisará
dizer não, tomar uma posição, e por vezes ser um pouco diferente (sair da sua
área de conforto).
2 – Sentido/ Significado/ Importância (difícil traduzir a palavra Bedeutung)
Dificilmente
alguém que trabalha sentado o dia inteiro, na frente do computador, consegue dar, a longo prazo, um sentido naquilo que é exibido no monitor ao fim de
todos os dias. Muitas dessas pessoas
podem até sonhar em estar reparando bicicletas, trabalharem como carpinteiros
ou com cavalos, qualquer coisa, que a consequência daquilo que você faz é muito
mais óbvia e ali, na sua cara.
Eu lembro na
época da faculdade, muitas pessoas reclamavam que os professores eram
sonhadores e se sentiam os salvadores da Pátria. Dependendo realmente de quanto
tempo você está na sala de aula, de que tipo de pesquisa você faz, se realmente
o produto do seu trabalho está num monitor e nas suas falas, você começa a ter
um discurso político delirante. Porque aquilo que você fala, não precisa ser
avaliado para ver se resulta naquilo que você está jurando que resulta.
Daí você vê
muito profissional mal-humorado, dizendo que as coisas não funcionam, que todo
mundo é ruim, péssimo profissional, mas qual é o seu objetivo, quais são realmente
os resultados que você obtém?
3 – Orientação.
Quem está na estação
de ônibus, sabe provavelmente para onde quer ir. Na vida real, há muitas
possibilidades, é muito útil então saber para onde você quer ir, senão fica
perdido, dentre todas as possibilidades que têm... Muito importante também
saber aonde não quer ir e o que não quer ser!
4 – Sentimento de pertença.
Os homens são seres sociais, muito
dificilmente conseguem viver totalmente sozinhos e isolados. Significado
emerge para a maioria das pessoas, quando elas se veem como parte de um todo e de uma experiência maior. Esta
pode ser a família, os amigos, um clube desportivo, uma
comunidade espiritual, whatever.
Todo homem precisa de um sentido para a vida?
Para
um número surpreendente de pessoas as perguntas ou temas do trabalho da
austríaca são irrelevantes. Eles
não veem nenhum significado especial em suas vidas, e também não sofrem desta “futilidade”.
O
Estado civil desempenha um papel importante do “sentido da vida”?
Para a autora, as pessoas casadas (seja
civilmente ou moram junto por escolha) ou até mesmo as pessoas que já foram casadas,
desfrutam de vidas mais significativas e se sentem mais satisfeitas do que as
pessoas indiferentes a relações “sólidas”. A vontade de estabelecer um vínculo forte com alguém
parece promover sentido - ou senso de “missão cumprida”.
Os solteiros, no entanto, vivem mais
frequentemente uma crise de “sentido”. A
vida de solteiro parece ser um fator de risco para crises existenciais.
Mas
claro, isso são generalizações. Será que um casal que vive brigando, são mais
apegados ao seus corpos que ao seu crescimento pessoal, que são violentos,
faltam com respeito um com o outro, mesmo assim tem essa sensação de “sentido
para a vida”?
E solteiros, que preencheram suas vidas com
atividades úteis, com consequências “reais” e gratificadoras para suas vidas,
com uma grande rede de apoio social – família e amigos, não se sentem mais
realizados, que um dos parceiros, do casal acima?
O fato é que nossa sociedade praticamente “exige”
que ao passar de uma certa idade as pessoas se expliquem “porque estão
solteiras”. Talvez se essa exigência social fosse derrubada, os solteiros
também não teria crises existenciais. Porque a vida tem sim sentido, sozinha. Não
ter parceiro (a) não significa não ter família e amigos e um trabalho
gratificante.
Bom, o sentido dessa reflexão não é dizer o
que deve ou não deve ser feito. A pesquisa da autora Tatjana Schell
me chamou atenção para algumas coisas, mas nem tudo eu concordo com ela.
Aqui em Luxemburgo está tendo um debate
muito grande sobre violência doméstica, comentei isso outras vezes. Essa violência
pode ser física e verbal, isto é, punitiva, humilhante, proibitiva, tornando a vida
de um dos parceiros na relação restrita a sua própria casa. Quando assisti há um
desses debates me perguntei: O que será uma vida significativa para tais
pessoas?
Ou mesmo quando vejo as notícias de corrupção,
somente um político ter roubado 150 milhões do povo brasileiro! Imaginem! Quantos
políticos temos! Socorro! Bom, daí fico pensando... Qual é o sentido da vida
para essas pessoas?
E para vocês? O que dá sentido em suas
vidas?
Je