Eu me lembro que
a decisão de colocar o Benjamin na creche foi muito difícil. Ora eu
me culpava muito por deixá-lo lá, ora eu me culpava por deixá-lo somente comigo em casa e privá-lo de outros tipos de interações. Existe como saber qual escolha foi a
certa? Colocá-lo ou não na creche? Provavelmente nunca saberei.
A questão é:
como eu fiz para sentir que minha escolha foi no mínimo adequada? Não
fiz muitas coisas não. Foi a montanha que veio a Maomé na verdade.
Primeiro,
acho que cada um tem que observar bem o seu filho (a) e principalmente a
si.
O Benjamin é um
bebê muito sociável. Igual disse uma amiga da minha mãe “que
safadinho, ele vai com todo mundo”. É isso mesmo. No Brasil,
principalmente, ele passou de colo em colo, minhas amigas e
familiares deram comida para ele, deram banho nele, sumiam com ele e
ele não se reclamava. Claro, se bater sono e fome, aí o Benjamin
mostra suas garrinhas. Mas eu e o Dani sempre tivemos a impressão de
que ele gosta de conhecer pessoas novas e examinar seus dentes. Se eu
acreditasse que isso tem alguma correlação com o futuro, eu diria que
ele seria dentista. Mas para mim, parece só que dentes são seus
brinquedos favoritos.
Eu lembro a
primeira vez que quis sair do ninho, o Ben tinha uns 4 meses e eu
quis fazer uma matéria na Universidade, pois em um mês eu iria
trabalhar lá e depois de 4 meses pensando só em amamentação, nas
minhas noites mal dormidas, nas bochechinhas do Ben, eu comecei a
estudar.
Ben com 5 meses examinando a boca de sua educadora preferida, a Silvia, paixão secreta do Ben :) |
Foi muito difícil
ficar essas duas horas longe do Ben. Eu saia muito com ele, eu sempre
ia para rua ou encontrar minhas amigas para o Ben ficar mais
contente. O Ben não é definitivamente um bebê que gosta de ficar em casa o dia inteiro. Ele precisa de ACTION! Como diz o Dani. Mas era a primeira vez que eu saia de casa sem ele. Claro,
sem contar às vezes que eu estava no meu limite e entregava ele para
o Dani e saia correndo de casa dar uma volta de bicicleta.
Quando eu estava
na sala de aula, minha amiga Maria cuidava do Benjamin. E eu ficava
pensando, coitada da Maria, vou chegar lá o Ben vai estar
chorando, sofrendo com saudades da mamãe. E assim que eu chegava em
casa, estavam lá os dois brincando ou ele dormindo no colo da Maria.
O Ben quando tinha 4 meses e a Maria, quando tinha 23 :P |
Eu deveria nesse
momento sofrer? Meu Deus, pera ai, ele não sente minha falta? Ou
deveria ficar feliz? Que bom! O Ben gosta de mais pessoas, que não só mamãe e papai. E foi assim que eu descobri que o coração do Ben é muito
grande.
Depois o Ben começou a ir na creche Les P'tites Fripouilles. Esse foi um golpe duro para mim, que
estava grudada o dia inteiro com ele, e de repente eu passei a ficar
horas do dia sem ele. As primeiras semanas foram muito cruéis. Então
eu ia correndo na creche pegá-lo. Já vinha com aquela cara de “tenham
pena de mim”, achando que elas me contariam que ele chorou o dia
inteiro. E elas “não, ele não chora muito não, só quando quer
dormir ou está com fome”. E eu:
Oh really? |
Mas eu me lembro
dos choramingos inconsoláveis.... Será que as educadoras estão
querendo me deixar menos preocupada? Hoje acredito que não. Porque
quando o deixo na creche, ele começa a rir e ele vai muito feliz para
o colo delas e dele. Tem um educador lá que o Ben adora! E eu vejo
o quanto elas gostam do Ben, porque às vezes chego antes do horário e
fico expiando eles pela janelinha e o Ben ganha muitos beijinhos e abraços.
O Ben jogando seu charme para a Stéphanie |
Hoje quando vou
buscar o Ben, está escrito no caderninho dele que ele sorri muito
e é muito divertido. Isso me deixa tão aliviada e feliz. Meu
Benzico gostou da minha escolha.
No fundo,
acredito que a escolha da creche ou de não ir para a creche, não é
somente pelo bem do bebê. Muitas mães escolhem não colocar o filho na
creche, porque querem ficar com eles em casa. E que bom, que gostoso.
Mas não é realmente porque todos os filhos só precisam das mães e dos
pais. Como todos, cada bebê é de um jeito e você precisa estar
muito atenta ao jeitinho do seu filho (a). O meu Benjamin precisa
obviamente interagir com muitas pessoas para ser feliz e talvez só mamãe o dia inteiro seria entediante para ele.
A escolha de
colocá-lo na creche também não foi somente para ele ter mais interações, foi para o meu bem. Eu queria trabalhar, eu acho
importante além de ser mãe, ser profissional, mulher e amiga. Eu
gosto muito do que faço, e sentia muito falta. Eu consigo ser uma
mulher que trabalha, que ama seu parceiro, que amamentou seu filho
por 10 meses, que sai com os amigos e passa um tempo cheio de alegria
e brincadeiras com seu pequeno.
Eu sei também
que ele é a pessoa mais importante da minha vida. Mas eu nem
sempre serei para ele a pessoa mais importante. Por isso, eu tenho
que aproveitá-lo o máximo possível, sem deixar de ser a Cintia. Alias, é muito estranho pensar, como mãe, que o Ben "não me pertence", ele é um serzinho diferente de mim, com suas vontades e sua independência (ainda que pequena).
Não há uma
escolha fundamentalmente altruísta. Nós sempre pensamos em nós
mesmos, no que eu quero para minha vida, no que, onde e como vou me
sentir melhor. O problema é você fazer uma escolha pessoal como essa
– colocar o seu filho na creche ou não – e dizer que a outra
escolha, a que você não tomou, é a errada. Não há receitas. Há experiências, cultura influenciando, desejos e jeitinho de bebês e
suas famílias.
Se você é uma
boa observadora do seu bebê não há escolha errada enquanto ele
estiver dando sorrisos e sendo serelepe.
Enquanto isso, eu
levo o Ben na creche e ele se estica no meu colo tentando alcançar a
porta da creche, eu o coloco no colo do educador, ele balança as
perninhas euforicamente, já lascando sorrisos e examinando a boca do
Monsieur, nem olha para trás. Depois começa a olhar para baixo,
aquele bando de crianças brincando, correndo e descobrindo o mundo e
ele começa a se esticar tentando alcançar seus coleguinhas. O
educador olha para mim e diz: “Tchau mamãe, tenha um bom dia,
porque o pequeno aqui já começou o seu”.