quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Café de sábado - Quando os planos felizmente não dão certo





E quando aquele programa tão desejado de sábado a noite não acontece? Como você reage? Qual sua capacidade de facilmente se adaptar e “inventar” uma nova situação?

Semana passada combinamos de ir numa pizzaria italiana em Esch-sur-Alzette, a segunda maior cidade do Grão-Ducado... 30 mil habitantes...



Lá eu finalmente encontraria uma brasileira que faz tempo que quero conhecê-la melhor. Nossos amigos, casal francês-alemã, disse que o dono italiano, casado com uma brasileira muito gente fina, gostariam de nos conhecer a fim de trocarmos ideias verdes-amarelas.

Muito animados, convidamos outros amigos, franceses e ingleses parar participar da ocasião.

Foi quando chegamos em Esch e vimos o bilhete do mau:


Mais ou menos isso. Não entendemos o motivo de estar fechado num sábado do meio de fevereiro sem Carnaval.

Como é inverno, mesmo que um inverno excepcional – nunca nevou. Alias, dizem que isso não acontece há décadas. Alguns dizem que isso nunca aconteceu. Outros mais pessimistas dizem que é o fim do mundo. Resolvemos então entrar logo num barzinho para esperar nossos amigos franceses que obviamente estavam atrasados.

Aqui há muitos “Cafés portugueses”. A primeira vez que vi, achava que era tipo uma padaria. Mas não, é um bar, com muita cerveja, vinho, e bebidas alcoólicas em geral, em que até dezembro do ano passado podia-se fumar a vontade lá dentro. Então eu evitava de entrar neles. Um Café sem bolo e com fumaça? Obrigada, não.

Mas hoje, como foi interditado fumar dentro de locais fechados... Sim, uma década depois... Nós estrangeiros que não fumamos estamos aproveitando para conhecer Cafés nunca antes navegados.

Vimos um Café e entramos. Quase como de regra, era o Café de um português. 

Coincidentemente também era aniversário do português, o Orlando, e ele estava extremamente feliz.

Mal sentamos e fomos tratados como o Grão-Duque. Ganhamos cervejas com copos da região de Portugal de onde Orlando vinha, queijo de ovelha e presunto de Portugal. Sucos naturais para aqueles que não podem beber. Tudo deliciosamente saboroso!

Não deu muito tempo, todos nossos amigos chegaram e quando nos demos conta estávamos comemorando o aniversário do Orlando. Dançamos músicas brasileiras e portuguesas. Assistimos aos portugas subindo no balcão e rebolando como legítimos sambistas e funkeiros.



Comemos do bom e do melhor, ganhamos vários presentes comestíveis, como camarão, bolo de fubá, arroz doce e rimos a noite toda.
Eu - Último pedaço de bolo de fubá

Lembrei que o controle da televisão de meu amigo ficou na van que alugamos outro dia (What the hell?) e entreguei para ele na hora do ritmo dançante. Descobrimos que é possível acabar com um clipe da Britney Spears que insiste em passar na TV levando o controle remoto da sua casa... Perfeito para a Copa do Mundo :)

No fim, amávamos o Orlando, como amamos nossos pais!

Eu estou com saudades de uma terra que nunca pisei... 



Saímos de lá com uma pergunta na cabeça, como diriam meus amigos ingleses: What the fuck?

Como chegamos ao ponto de criar tal intimidade com um bando de gente desconhecida num café e ter uma noite extremamente alegre e divertida?

Primeiramente, somos capazes de rapidamente mudar de ideia e nos adaptarmos. Vivemos em um país multicultural em que reconhecemos que nossa cultura é simplesmente algo construído, que o sentimento de nação, não passa de um aprendizado que custa muito caro a muitas pessoas e conseguimos quebrar essas barreiras e aceitar toda e qualquer esquisitice, desde que ela seja sem julgamento e proporcione alegria e paz.

Aprender a mudar de planos vale não somente para uma saída de sábado, mas para uma mudança de planos profissionais, relacionais e por aí vai...

Desejo a todos, muitos planos que não deem certo...

Lílian

Obs: não vou colocar os vídeos que fizemos pois não quero comprometer a vida de ninguém :)

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Viciados em Jogos de Tabuleiro




Se tem uma coisa que aprendi muito bem na Alemanha, além de como engordar rapidamente e eficientemente é a jogar Jogos de Tabuleiro.

Não fiz a volta ao mundo ainda, mas não vi um país que tenha tão bons jogos como a Alemanha. Além de serem bons, os alemães adoram e se reúnem muitas vezes para jogar.

Uma vez na aula de francês o professor perguntou o que gosto de fazer no fim de semana e eu disse "Jogar Siedler”. Quando ele percebeu que era um jogo, deve ter achado muito entediante e voltou-se para outras pessoas, para perguntar o mesmo, esperando talvez uma resposta do tipo "Tomar um bom vinho francês e comer raclette, foi gras ou Coq au vin ao pé de uma janela em que se possa ver a neve se deslizando". 


Coq au vin

Mas o grupo de amigos, com quem jogo Siedler aqui, já vou explicar o que é isso, são dois alemães e um francês e os dois latinos foram contaminados pelo German-Style, mas o francês não deixou escapar pelo menos os doces franceses. Acabamos comendo linguiças, com pão francês, uma saladinha para desencargo de consciência, e sobremesas francesas: eclair, moulin, petits fondants e assim vai. 

Jogos de tabuleiro além de seres divertidos proporcionam tudo isso para as pessoas:

- melhoram o funcionamento da memória

- estimulam as habilidades ligadas ao raciocínio

- promovem a integração social entre os participantes

- aprimorar o nosso conhecimento

- ensinam os competidores a lidarem com a vitória e com a derrota

- proporcionam a você e seus amigos momentos extremamente agradáveis

- aprender a mudar táticas de acordo com o comportamento dos outros no jogo e blá blá blá

Mas é óbvio que não jogamos por tudo isso... Sem as pessoas, o jogo não seria nada. Então a “promoção de integração social” provavelmente é o único argumento consciente que temos. No mais, um dos alemães joga para ganhar. Se não ganhou, o clima pode ficar belicoso.


Cuidado!


Na Alemanha existem críticos que são pagos para avaliar os jogos de tabuleiro, e os jogos podem ganhar prêmios como o prestigioso Spiel des Jahres (Jogo do Ano). É interessante ler a entrada da Wikipédia na explicação do que é German-style board game, pois difere muito de outros jogos de tabuleiro, e também é interessante perceber que, algumas pessoas, como eu, adoram jogar jogos de tabuleiro, mas há pessoas que os levam muito mais a sério do que simplesmente “gostar”.

Mas porque particularmente os alemães gostam tanto de jogos de tabuleiro? Existem algumas teorias, como essa que achei perdida na internet:

There are two schools of thought as to why the Germans love board games,” says Martin Wallace of Warfrog. “The Germans are of the opinion that it’s down to their superior education system. We English are of the opinion that it’s because German TV is shite.” (ft.com)

Tradução meia-boca: “Há duas escolas de pensamento a respeito do porque os alemães adoram jogos de tabuleiro", diz Martin Wallace of Warfrog (Sapo de guerra, o que é isso meu Deus?). "Os alemães são da opinião de que é por causa do seu superior sistema de ensino. Nós, ingleses, somos da opinião de que é por que a TV alemã é uma merda”.

Eu sou de uma terceira escola, que acabei de criar “Ertel School of Thought” dos anos 2014, que precisamente durou 2 dias: é por causa das habilidades sociais alemãs. Não quero dizer que os brasileiros têm habilidades sociais melhores, mais positivas e abertas que os alemães. Mas que os alemães têm mais dificuldades em iniciar e manter conversações, olhar nos olhos, fazer perguntas íntimas, criar intimidade, ficar atento às pessoas, não ao que elas precisam – bebidas, linguiças, chips e por aí vai.

Minha teoria, em resumo, é que fazem eles interagirem socialmente sem sentir tantas pressões... Pressão da conversa ter que ser interessante para ser “conversada”, de não entrar em detalhes privados da vida das pessoas, com a premissa de que talvez elas não gostem, quando na verdade estão doidinhas para falar sobre os assuntos escabrosos de suas vidas. Pressão de não colocar água ou cerveja nos copos o tempo inteiro, etc.

O jogo proporciona um clima em que os alemães conseguem deixar a timidez de lado. Ficam atentos ao jogo, as regras do jogo e esse ambiente que acaba proporcionando uma tranquilidade que às vezes é difícil eles criarem sem o uso dos jogos.

Tranquilidade alemã


Claro que estou falando em regra geral, e da experiência que tive na Saxônia com conhecidos (e não com aqueles que vieram a se tornar meus bons amigos alemães). Provavelmente meus amigos que ficaram na Bavária ou em outros estados alemães que tem nomes compridos, tem experiências muito diferentes.

Alemães que tiveram experiências internacionais ou até namoros internacionais também já são mais “soltos”... E isso tudo pode ser ainda preconceito e julgamento meu... Ainda estou avaliando!

Ah! O que é Siedler? É o melhor jogo ever!!! Não há outra maneira de descrever. Você precisa comprar e jogar uma vez. Pronto, está fisgado. Em português chama-se Colonizadores de Catan… E não Colonizadores de Catalão, como eu erroneamente dizia… (aqui vai o link no Wikipédia).

Brasileiros que foram fisgados pelos jogos alemães

Aqui vão outros links sobre os alemães e jogos:

Germany holds the key to the survival of board games in the digital age:

German-style board game: 

Why Your Board Game Collection Needs Some German-Style Games:  http://kotaku.com/5985644/forget-game-of-thrones-the-best-board-games-are-german+style

E você? Conhece um jogo de tabuleiro muito bom? Aceitamos recomendações! :)

Lílian